Janeiro/2022
As empresas coloniais que empreendiam nas colônias portuguesas de Angola e Moçambique recorriam à fotografia para reforçar uma narrativa de África como país incivilizado e povoado por bárbaros, que careceria do esforço “civilizador” da agência portuguesa para trazer um “progresso”. É o que afirma o pesquisador Hugo Silveira Pereira (Centro Interuniversitário de História das Ciências e da Tecnologia – CIUHCT, Portugal), no artigo Capital, Império e Fotografia: evidências dos álbuns fotográficos de empresas coloniais em Angola e Moçambique durante o scramble for Africa, publicado na atual edição da revista História, Ciências, Saúde-Manguinhos (vol 28, n. 4, out/dez 2021).
O estudo demonstra como a fotografia foi usada no contexto colonial português de finais do século XIX e inícios do século XX como um instrumento de Império e realça como a construção desta narrativa e da subsequente tentativa de legitimação da presença portuguesa em África contribuiu para a solidificação de concessões racistas sobre os negros e para uma noção de bonomia da colonização lusa, que ainda hoje persistem na sociedade portuguesa.
Ricamente ilustrado com fotos da época, o artigo recorre a uma metodologia baseada na semiologia de Roland Barthes (1972) para ir além da aparente objetividade da fotografia, abordando-a também como instrumento de produção de ideologia. Segundo o autor, o trabalho contribui não só para o debate acadêmico internacional sobre a importância da fotografia como fonte histórica em estudos coloniais e pós-coloniais, mas também para a desconstrução da narrativa luso-tropical do “bom colonizador português”, que alegadamente tinha uma relação empática com os africanos.
Leia em HCS-Manguinhos:
Capital, Império e Fotografia: evidências dos álbuns fotográficos de empresas coloniais em Angola e Moçambique durante o scramble for Africa, artigo de Hugo Silveira Pereira (História, Ciências, Saúde-Manguinhos, vol 28, n. 4, out/dez 2021).