Janeiro/2016
Conhecido como “Príncipe Perfeito”, dom João II (1455-1495), político centralizador, incentivou e financiou a expansão ultramarina e foi personagem essencial nos acordos de paz com Castela. Junto com sua rainha, dona Leonor, o rei também foi responsável por uma grande reforma hospitalar que colocou a assistência de Portugal no rumo da modernidade.
No artigo O Hospital Real de Todos-os-Santos e seus agentes da cura, a historiadora Priscila Aquino Silva, professora do Centro Universitário La Salle do Rio de Janeiro e pesquisadora do Laboratório de Estudos Medievais e Ibéricos (Scriptorium) da Universidade Federal Fluminense, focaliza, a partir de crônicas e de regimentos do período daquele reinado (1481-1495), a principal obra hospitalar da época, usada como estratégia de enaltecimento do poder régio. O artigo está publicado nesta edição de HCS-Manguinhos (v.22, n.4, out./dez. 2015).
Nos moldes modernos, o Hospital Real de Todos-os-Santos, também chamado de Hospital Grande de Lisboa, somava duzentas camas, diferindo das casas hospitalares da Idade Média, que tinham até dez leitos. O hospital dava assistência aos pobres e aos doentes separadamente. Quem ficava responsável pela “casa dos pedintes andantes” era o hospitaleiro, mas ali o pobre poderia apenas pernoitar. Ofereciam-se cama, roupa de casa e ao menos duas refeições.
O estabelecimento contava com um amplo leque de agentes da cura: enfermeiros, boticários, cirurgiões, físicos, barbeiros. Combinado aos cuidados médicos, os enfermos deveriam ouvir as missas. E antes mesmo de entrar no hospital, tinham a obrigação de se confessar.
“Modernos, esses hospitais? Ou medievais? Transformações e permanências se conjugam nessas casas de acolhimento, medicina e caridade”, afirma a autora. Segundo ela, o momento caracterizou-se por profundas rupturas com as práticas assistenciais anteriores, revelando, já no século XV, o papel central que o Estado começa a desempenhar no domínio da assistência. Porém, pondera, as transformações comportam densas permanências.
“Miséria e enfermidade continuariam a ser vistas como intercessoras e mediadoras do perdão divino. Abririam as portas do paraíso. A época é de tênues fronteiras entre enfermidade e pobreza. Fugidias, essas linhas se entrelaçam no mundo medieval e na aurora do mundo moderno – assistência e saúde são instâncias que caminham lado a lado”, explica.
Leia em HCS-Manguinhos:
O Hospital Real de Todos-os-Santos e seus agentes da cura
Sumário da edição (vol.22, n.4, out./dez. 2015)
Como citar este post [ISO 690/2010]:
O medieval e o moderno no Hospital Real de Todos-os-Santos. Blog de HCS-Manguinhos. [viewed 18 January 2016]. Available from: http://www.revistahcsm.coc.fiocruz.br/o-medieval-e-o-moderno-no-hospital-real-de-todos-os-santos