Agosto/2018
Várias fontes históricas do século XVI em diante atestam o colapso populacional de ameríndios depois da chegada dos espanhóis. Essa hecatombe demográfica ocorreu de forma desigual no amplo território americano, considerando que o povoamento dessas terras também era heterogêneo e desigual. O artigo Epidemias e colapso demográfico no México e nos Andes do século XVI: contribuições da biologia evolutiva, de Ricardo Waizbort, do Instituto Oswaldo Cruz/Fiocruz, e Filipe Porto, do Colégio de Aplicação da UFRJ, publicado na atual edição de HCS-Manguinhos (vol.25, no.2, abr./jun. 2018) apresenta uma leitura crítica da literatura histórica e discute a importância de epidemias como de varíola e sarampo, entre outras, no que hoje se conhece como México e Peru.
Os autores se valem do conceito de adaptação imunológica para compreender, por um viés das causas evolutivas, por que apenas as populações ameríndias sofreram barbaramente com as epidemias, e não as populações europeias. Eles afirmam que nas últimas décadas interpretações que levam em conta o projeto colonialista europeu têm buscado minimizar a importância das epidemias ou matizá-las com fatores sociais, econômicos e políticos. Para os autores, os fatores sociais não se resumem à violência dos espanhóis, mas às consequências da desestruturação de sistemas sociais complexos, quer por violência ou por epidemias, o que levou a crises agrícolas com efeitos em cascata, interferindo na própria capacidade biológica da reprodução.
Por fim, os autores sublinham também que é fundamental, na tentativa de compreender fenômenos históricos que envolvem atores biológicos (no caso populações humanas distintas, da Europa e das Américas, populações de parasitos e de possíveis vetores biológicos), articular as causas sociais mais imediatas com causas biológicas distantes no tempo, que levam à suposta adaptação imunológica dos espanhóis.
Leia em HCS-Manguinhos:
Epidemias e colapso demográfico no México e nos Andes do século XVI: contribuições da biologia evolutiva, artigo de Ricardo Waizbort e Filipe Porto (vol.25, no.2, abr./jun. 2018)
Como citar este post:
Epidemias e colapso demográfico no México e Peru do século XVI, Blog da revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos, 2018. Publicado em 30 de julho de 2018. Disponível em www.revistahcsm.coc.fiocruz.br/epidemias-e-colapso-demografico-no-mexico-e-peru-do-seculo-xvi
Leia também em HCS-Manguinhos:
‘Formidável contágio’: epidemias, trabalho e recrutamento na Amazônia colonial (1660-1750), artigo de Rafael Chambouleyron, Benedito Costa Barbosa, Fernanda Aires Bombardi e Claudia Rocha de Sousa (vol.18, no.4, dez 2011)
As epidemias nas notícias em Portugal: cólera, peste, tifo, gripe e varíola, 1854-1918. Artigo de Maria Antónia Pires de Almeida, Jun 2014, vol.21, no.2
“Não é meu intuito estabelecer polêmica”: a chegada da peste ao Brasil, análise de uma controvérsia, 1899 Artigo de Dilene Raimundo do Nascimento e Matheus Alves Duarte da Silva, Nov 2013, vol.20, suppl.1
Bactéria ou parasita? a controvérsia sobre a etiologia da doença do sono e a participação portuguesa, 1898-1904. Artigo de Isabel Amaral. Dez 2012, vol.19, no.4