Um engenheiro alemão no Império do Brasil

Fevereiro/2023

O engenheiro alemão Heinrich Gerber (Foto: acervo do MAN Museum, Augsburg)

A expansão ferroviária no Brasil ganhou maior impulso a partir de 1870, avançando para o interior do território, ligando-o aos principais portos litorâneos. As ferrovias empregaram engenheiros e milhares de trabalhadores braçais – homens livres, escravizados, libertos, imigrantes e coolies chineses. Apesar da expressiva literatura sobre engenheiros estrangeiros na construção ferroviária no século XIX na América Latina, há poucos estudos sobre a execução de obras públicas realizadas por engenheiros estrangeiros no Brasil entre as décadas de 1830 e 1870.

O artigo Uma visão dos trópicos de Heinrich Gerber, 1850-1860: ciência e pensamento econômico de um engenheiro politécnico alemão no Império do Brasil, de Télio Cravo, publicado na revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos (v. 29, n. 4, out/dez 2022), busca ocupar esta lacuna. Pós-doutorando do Max Weber Programme no Departamento de História e Civilização do European University Institute, em Florença, Itália, o autor revela novas evidências que apontam para a reconfiguração dos debates da história da ciência, em especial das práticas tecno-científicas de engenheiros no Brasil do século XIX.

Contratado pelo governo da província de Minas Gerais de 1858 a 1867, o engenheiro politécnico alemão Heinrich August Anton Gerber (1831-1920) influenciou a difusão de técnicas e trocas culturais entre o Brasil e a Europa e participou do envio de brasileiros para estudar engenharia em Paris. Cravo investiga essas trocas, a aplicação do conhecimento científico e o encontro com problemas práticos de ordem econômica e social pelo engenheiro no Império do Brasil.

Gerber ascendeu ao cargo de engenheiro chefe da Diretoria de Obras Públicas, produziu relatórios, importou instrumentos científicos, livros e expôs ideias sobre desenvolvimento econômico e expansão da infraestrutura viária. O artigo examina o seu pensamento econômico e aponta como ele se vinculou à proposta de criação de empresa privada no setor da infraestrutura viária, aborda a compra e circulação de livros e instrumentos científicos, a produção cartográfica e a elaboração de plantas e projetos.

A esses resultados, pouco conhecidos da historiografia, somam-se outro: a ativa participação de Gerber no envio de jovens brasileiros para estudarem na École des Ponts et Chaussées, em Paris, a fim de se tornarem engenheiros. O estudo indica novos caminhos para a interseção entre micro-história, história da ciência e história global.

Leia na revista HCS-Manguinhos:

Uma visão dos trópicos de Heinrich Gerber, 1850-1860: ciência e pensamento econômico de um engenheiro politécnico alemão no Império do Brasil, artigo de Télio Cravo (História, Ciências, Saúde – Manguinhos, v. 29, n. 4, out/dez 2022)