Tipos corporais, miscigenação e regionalismo

Fevereiro/2017

Mestiço, tela de Cândido Portinari de 1934

Imagens científicas de corpos normais, e, por isso, belos e saudáveis, sempre estiveram presentes nas representações públicas do passado e do presente. Em meio aos debates sobre identidade nacional no contexto do governo de Getúlio Vargas, para além do biodeterminismo, também hierarquia racial, miscigenação e discursos sobre identidades regionais compuseram as explicações para o tipo corporal miscigenado do brasileiro.

O artigo Biotipologia, regionalismo e a construção de uma identidade corporal brasileira no plural, década de 1930, de Ana Carolina Vimieiro-Gomes, professora de História da Universidade Federal de Minas Gerais, discute como os estudos biotipológicos regionais reverberaram diferentes concepções de miscigenação bem como visões racialistas, normalizadoras e excludentes, que, naquele período, contribuíram para a construção de uma identidade corporal brasileira no plural.

A autora analisa os estudos biotipológicos com recorte regional nos anos 1930, em particular aqueles sobre o perfil corporal de regiões específicas do país, como Nordeste e São Paulo. Em face dos debates sobre raça, miscigenação e identidade nacional da época, essas investigações foram orientadas pelo intuito de se caracterizar em termos biológicos o brasileiro e pela ideia da influência do meio, de aspectos sociais e culturais no seu desenvolvimento corporal.

Se por um lado o estudo sobre o biotipo do homem do Nordeste evidenciava o processo histórico de colonização das diferentes partes da região, do domínio do sertão e a cultura sertaneja, como prova da viabilidade da miscigenação, biológica e cultural, entre brancos, negros e índios; por outro, a biotipologia do paulista dava a ver justamente uma suposta “excepcionalidade do paulista”, manifesta também nos corpos. Tal excepcionalidade era explicada sobretudo segundo uma identidade regional que ressaltava a positiva capacidade de assimilação de imigrantes europeus em São Paulo e a pouca representatividade do negro na conformação daquela população; produzindo então uma concepção de miscigenação que apontava para o ideal do branqueamento e que, em termos socioeconômicos e culturais, explicaria o estágio mais avançado e moderno daquela região.

Leia em HCS-Manguinhos:

Biotipologia, regionalismo e a construção de uma identidade corporal brasileira no plural, década de 1930, artigo de Ana Carolina Vimieiro-Gomes (vol.23, supl.1, dez. 2016)

Acesse o sumário da edição especial “A eugenia latina em contexto transnacional”
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