Abril/2017
Somos países em desenvolvimento e é por isso que temos urgência em ter mais ciência e que a pesquisa científica abarque todas as disciplinas. Essa é a tônica da nota dos editores científicos Marcos Cueto e André Felipe Cândido da Silva, que emprestam a carta de apresentação do volume 24 da revista ao libelo da editora associada Karina Ramacciotti, da Universidade de Buenos Aires. Ela expõe ataques oficiais à ciência em seu país, como a redução de 60% do número de pesquisadores de carreira, representando a ruptura de um processo contínuo nos últimos 15 anos: “Cerca de 508 pesquisadores que foram submetidos a um rigoroso e exaustivo processo de seleção não se tornarão cientistas de carreira devido aos cortes de orçamento implementados pelo governo Mauricio Macri”, sublinha.
Além da reflexão sobre o caso argentino, a revista está recheada por uma diversidade de artigos, que vão desde a lepra em Moçambique no século XIX, à pesquisa com células-tronco no Brasil; da cobertura de ciência em telejornais brasileiros e colombianos, à percepção dos agrotóxicos em Santa Catarina, até o uso de marionetes para auxiliar na erradicação da malária no México.
No artigo “Lepra: doença, isolamento e segregação no contexto colonial em Moçambique“, Valdemir Zamparoni, professor de História da Universidade Federal da Bahia, discute opiniões e propostas elaboradas por agentes da medicina ocidental da época, registradas em relatórios e documentos publicados pela Repartição de Saúde e o Arquivo Histórico de Moçambique. No começo do século 19, a lepra na África atraía a atenção de médicos europeus e missionários, como o suíço Henri Junod, que em sua etnografia sobre os povos tsonga, do sul de Moçambique, afirma que a lepra era considerada uma das duas doenças contagiosas mais temidas – a outra era a tuberculose. Ele percebe também que a visão ocidental e a local sobre as doenças eram bastante diferentes: embora a doença fosse muito temida, os leprosos não eram segregados, apesar de a ideia do contágio por contato não lhes ser estranha e haver cuidados específicos.
Produtos milagrosos ao alcance das mãos. Essa foi a ideia vendida para agricultores brasileiros, a partir de 1950, como contam os autores Miguel Mundstock Xavier de Carvalho, Eunice Sueli Nodari e Rubens Onofre Nodari, no artigo “Defensivos” ou “Agrotóxicos”? História do uso e da percepção dos agrotóxicos no estado de Santa Catarina, Brasil, 1950-2002. Os pesquisadores explicam que os agrotóxicos eram parte do pacote tecnológico da modernização agrícola denominada de “revolução verde”. Sua percepção e utilização estavam conectadas à série de tecnologias agrícolas, como fertilizantes sintéticos, calcário, tratores e sementes certificadas.
A revista também apresenta um estudo que analisa e compara a cobertura de ciência e tecnologia dos principais telejornais brasileiros (Jornal Nacional) e colombiano (Notícias Caracol). No artigo A cobertura de ciência em telejornais do Brasil e da Colômbia: um estudo comparativo das construções midiáticas, a pesquisadora Marina Ramalho analisa o conteúdo de matérias de ciência e tecnologia (C & T) de abril 2009 a março 2010. Apesar das similaridades, o informativo brasileiro apresentou mais que o dobro de matérias nessas áreas, que o colombiano, com cobertura mais estável ao longo do ano e notas mais longas, mais recursos visuais e maior destaque.
No artigo “O teatro de fantoches, a televisão mexicana e a educação para a saúde na metade do século XX”, as pesquisadoras Maria Rosa Gudino e Susana Sosenski, apresentam o espetáculo de marionetes Las calenturas de Don Ferruco, que foi televisado no final da década de 1950 como instrumento útil para a educação em saúde, auxiliando a erradicar a malária no México. Elas analisam como a difusão de programas de fantoches educativos na televisão mexicana contribuiu para a atualização da pedagogia preventiva de saúde e a importância da televisão como promotora da produção educacional de promoção da saúde em meados do século XX. (Fonte: Casa de Oswaldo Cruz)
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