Março/2017
Júlia Carneiro |
BBC Brasil, Rio de Janeiro
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Demonstração de abertura de ovo e retirada de embrião para preparo da vacina anti-amarílica, produzida pelo Serviço Nacional de Febre Amarela em Manguinhos. Foto: Silvio Cunha, 1943. Casa de Oswaldo Cruz.
A febre amarela que reapareceu no Estado do Rio de Janeiro semana passada e voltou a espreitar áreas urbanas foi um dos principais desafios de saúde pública do Brasil do século 19 para 20. Eliminar a doença das cidades era condição essencial para abrir os portos ao comércio marítimo e a imigrantes estrangeiros e propagar a imagem de um país “moderno”.
As lições deixadas por décadas de esforços para erradicar a doença e seu vetor, entretanto, foram ignoradas por governos recentes, dizem historiadores ouvidos pela BBC Brasil.
Ao longo do século 20, o combate à febre amarela impulsionou a pesquisa científica e o desenvolvimento de vacinas no Brasil e incluiu capítulos vitoriosos como a gradual eliminação da doença de áreas urbanas e a erradicação temporária do
Aedes aegypti.
A última epidemia urbana no país foi registrada em 1942, no Acre. Na mesma década, uma grande campanha regional capitaneada pela Organização Pan-Americana de Saúde começou a mobilizar governos na América Latina para se unir na luta contra o vetor – e declarou, em 1958, ter conseguido livrar onze países do
Aedes aegypti, inclusive o Brasil. Em 1967, o mosquito reapareceu no Pará e reconquistou, gradualmente, o território nacional.
No início do século, epidemias de febre amarela eram constantes em grandes capitais portuárias da América Latina – como Rio, Buenos Aires e Havana.
Os surtos no Brasil, associados a males como varíola, malária, tuberculose e peste bubônica – deram ao país a alcunha de “túmulo dos estrangeiros”.
“A febre amarela atingia sobretudo os recém-chegados. Acreditava-se que os aclimatados ganhavam algum tipo de imunidade”, conta o historiador Jaime Benchimol, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e especialista na turbulenta história da vacina contra a doença.
Leia a reportagem completa no site da BBC Brasil.
Leia no Blog de HCS-Manguinhos:
Surto de febre amarela coloca em pauta investimento em infraestrutura sanitária e combate à pobreza, diz historiador
Para
Marcos Cueto (COC/Fiocruz), o crescimento desordenado das cidades, a falta de saneamento básico e outros determinantes sociais são entraves ao combate da doença
Artigo discute o debate científico sobre a propagação da febre amarela na imprensa paulista de 1895 a 1903
Soraya Lódola e
Edivaldo Góis Junior, da Unicamp, demonstram as disputas por poder na medicina
Campinas: laboratório da febre amarela
Em artigo publicado em
HCS-Manguinhos,
Valter Martins discute o trabalho da Comissão Sanitária do Estado de São Paulo para conter a doença no fim do século XIX
O papel de Havana na busca pelo germe causador da febre amarela no século 19
Steven Palmer, da Universidade de Windsor, Canadá, abordou o tema em workshop sobre doenças tropicais na Fiocruz.
Ideias de raça influenciaram diagnóstico da febre amarela no Caribe no início do séc. 20
Tara Innis, da Universidade de West Indies, em Trinidad e Tobago, participou de mesa no workshop sobre doenças tropicais realizado na Fiocruz de 1º a 3 de julho
Leia em História, Ciências, Saúde – Manguinhos:
Teorias sobre a propagação da febre amarela: um debate científico na imprensa paulista, 1895-1903, artigo de Soraya Lódola e Edivaldo Góis Junior, vol. 22, n.3, jul.-set. 2015.
Cidade-laboratório: Campinas e a febre amarela na aurora republicana, artigo de Valter Martins, vol.22, n.2, jan./abr. 2015
Antiescravismo e epidemia: “O tráfico dos negros considerado como a causa da febre amarela”, de Mathieu François Maxime Audouard, e o Rio de Janeiro em 1850. Artigo de Kaori Kodama, vol.16, no.2, Jun 2009
A cidade e a morte: a febre amarela e seu impacto sobre os costumes fúnebres no Rio de Janeiro (1849-50). Artigo de Cláudia Rodrigues, vol.6, no.1, Jun 1999
Combates sanitários e embates científicos: Emílio Ribas e a febre amarela em São Paulo. Artigo deMarta de Almeida, vol.6, no.3, Fev 2000
Produzindo um imunizante: imagens da produção da vacina contra a febre amarela. Artigo de Aline Lopes Lacerda e Maria Teresa Villela Bandeira de Mello, vol.10, supl.2, 2003
Da ‘abominável profissão de vampiros’: Emílio Goeldi e Os mosquitos no Pará (1905). Artigo de Nelson Sanjad, vol.10, no.1, Abr 2003
Representação e intervenção em saúde pública: vírus, mosquitos e especialistas da Fundação Rockefeller no Brasil. Artigo de
Ilana Löwy, vol.5, no.3, Fev 1999
Dengue no Brasil. Marzochi, Keyla et al., vol.5, no.1, Jun 1998