Rocha Lima: germanofilia e intercâmbio científico

Abril/2013

Microbiologista e patologista, Henrique da Rocha Lima foi o mais destacado promotor das relações médico-científicas entre o Brasil e a Alemanha na primeira metade do século XX. O prêmio recebido dos nazistas em 1938 e a simpatia que nutriu pela pátria de Goethe e Wagner mesmo depois da Segunda Guerra Mundial alimentaram suposições sobre sua postura política.

Rocha Lima aliou-se à medicina germânica num momento em que muitos de seus representantes abraçaram o projeto político-ideológico que levaria aos horrores do genocídio. Formado pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro em 1901 e um dos primeiros a compor o grupo de jovens pesquisadores do Instituto Soroterápico de Manguinhos (Instituto Oswaldo Cruz), Rocha Lima rumou para a Alemanha em 1909, fixando-se em Hamburgo, onde se projetou como pesquisador do Instituto de Doenças Marítimas e Tropicais (Institut für Schiffs- und Tropenkrankheiten), trabalhando com cientistas internacionalmente renomados, como Stanislas von Prowazek e Gustav Giemsa.

Rocha Lima com Prowazek, estudando o tifo. Foto do arquivo histórico do BNI.

Rocha Lima com Prowazek estudando o tifo.
Foto do arquivo histórico do BNI.

Nascido no Rio de Janeiro em 24 de novembro de 1879, Henrique da Rocha Lima era filho de famoso clínico do Império, Carlos Henrique da Rocha Lima, um dos fundadores da Policlínica do Rio de Janeiro. Os fatos de ter estudado no Colégio Brasil-Alemão, em Petrópolis, e de o pai ter sido ligado à Policlínica, instituição vazada no modelo austríaco, sugerem que a sua germanofilia tinha antecedentes familiares.

A medicina germânica era uma das mais avançadas, e a associação de ensino e pesquisa nas universidades alemãs influenciou o perfil da formação médica contemporânea, estimulando a atividade científica associada, por um lado, à docência, e por outro, à indústria.

A atividade de Rocha Lima como cientista envolveria desde o início a capacidade de negociar, acomodar interesses e lógicas referentes a universos culturais e sociais distantes. Foi o talento em lidar com os desafios que isso impunha que fizeram de Rocha Lima o mais ativo promotor das relações científicas entre Brasil e Alemanha na primeira metade do século XX.

Em artigo na revista HCS Manguinhos, André Felipe Cândido da Silva, pós-doutorando no Departamento de História/Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas/Universidade de São Paulo, examina a primeira viagem de Rocha Lima à Alemanha, onde se especializou em microbiologia e anatomia patológica, configurando sua identidade profissional. O autor apresenta o processo conflituoso através do qual Rocha Lima fez as escolhas que determinariam sua identidade científica: a opção pela medicina experimental e a identificação com a ciência e a cultura germânicas.

As tensões e dilemas enfrentados por Rocha Lima permitem melhor compreender o que significava a dedicação à carreira científica no Brasil do início do século XX e lançam luz sobre a importância das relações com o mundo germânico para a medicina experimental que se instituía sob a liderança de Oswaldo Cruz.

Leia a entrevista com o autor, André Felipe Cândido da Silva, do Departamento de História da USP.

Leia no Scielo o artigo Um brasileiro no Reich de Guilherme II: Henrique da Rocha Lima, as relações Brasil-Alemanha e o Instituto Oswaldo Cruz, 1901-1909

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