Retrocesso na saúde global e o fim do excepcionalismo da Aids no Brasil, 2007-2019

Março/2021

Os historiadores Marcos Cueto, editor-científico da revista HCS-Manguinhos, e Gabriel Lopes acabam de publicar na revista Global Public Health o artigo ‘Backlash in global health and the end of Aids’ exceptionalism in Brazil, 2007–2019.

O artigo analisa o declínio do programa de Aids no Brasil, o país da América Latina mais atingido pela epidemia, com ênfase na segunda década do século XXI. Por muitos anos, o Brasil serviu como um modelo na saúde global devido ao seu sistema preventivo abrangente, parceria entre o governo e ativistas da saúde e o apoio a medicamentos, que podem salvar vidas como bem públicos, em vez de commodities.

O retrocesso das políticas de Aids no Brasil interagiu com processos nos Estados Unidos, bem como com agências multilaterais como a Unaids, que enfatizou a biomedicalização na resposta à doença, ao invés de priorizar amplos programas relacionados aos direitos humanos e a aliança com ativistas, e com programas internacionais como “Ending Aids”, campanha que indiretamente minou o status excepcional que a Aids tinha desde o final dos anos de 1980.

O retrocesso nas políticas brasileiras de combate a Aids foi o resultado da fragmentação da esquerda e do empoderamento de forças autoritárias radicais e religiosas. O resultado foi o colapso na crença de longa data de que o sucesso do programa anti-Aids pode, simultaneamente, ajudar a controlar a doença e construir melhores sistemas de saúde, finalmente, incitando o fim do lugar de destaque que as políticas contra Aids tiveram no Brasil.

Os interessados nesta publicação podem escrever a marcos.cueto@fiocruz.br ou gabriel.lopes.mailbox@gmail.com

Leia no Blog de HCS-Manguinhos:

Os significados da história da saúde pública global
Suplemento especial da revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos reúne estudos que contribuem para a compreensão dos desafios atuais

Conservadorismo é um desafio na luta contra a Aids
“Como prevenir uma infecção sexualmente transmissível sem falar de sexo e sexualidade?”, questiona Eliza Vianna, pesquisadora da história da Aids. 

Marcos Cueto e Gabriel Lopes publicam artigo sobre a participação do Brasil na política global da Aids
Trabalho acaba de ser publicado na revista Social History of Medicine (Oxford University Press)

HIV/Aids, os estigmas e a história 
Leia a Carta dos Editores André Felipe Cândido da Silva e Marcos Cueto (HCS-Manguinhos, vol.25, n.2, abr./jun. 2018)

Aids: 30 anos depois, jovens em risco 
Dilene Raimundo do Nascimento fala sobre a Aids no Brasil desde a década de 1980 e chama atenção para a necessidade de se conscientizar os jovens

Estudo analisa noticiário do Dia Mundial da Luta contra a Aids 
Ana Condeixa analisou como dois grandes jornais brasileiros abordaram o tema anualmente por 25 anos 

A emergência da Aids no estado do Amazonas
Pesquisadores analisam o contexto histórico, social e político do surgimento da doença no fim da década de 1980 e como as respostas locais foram moldadas 

Leia ainda em HCS-Manguinhos: 

Rocha Kadri, Michele, e Schweickardt, Júlio César. A emergência da Aids no Amazonas (vol.23, no.2, abr./jun. 2016)

Nascimento, Dilene Raimundo do. A face visível da Aids. Jun 1997, vol.4, no.1  

Andrade, Maria de Fatima de Oliveira, Martins, Maria Cezira Fantini Nogueira and Bógus, Cláudia Maria Casa Siloéa história de uma ONG para crianças portadoras de HIV/AIDS. Dez 2007, vol.14, no.4

Zaquieu, Ana Paula V. Os desafios da alteridade:considerações sobre gênero e sexualidade entre militantes de uma ONG/Aids carioca. Mar 2006, vol.13, no.1

Marques, Maria Cristina da Costa. Contradições e assimetrias na construção do conhecimento em Aids/HIV. Ago 2005, vol.12

Góis, João Bôsco Hora. Novas reflexões sobre a Aids?. Ago 2005, vol.12, no.2

Moutinho, Laura. Tal Brasil, qual prevenção?. Ago 2004, vol.11, no.2

Monteiro, Simone. Uma visão histórica sobre uma epidemia contemporâneaa Aids e o caso peruano. Dez 2003, vol.10, no.3

Góis, João Bôsco Hora. Reabrindo a ‘caixa-preta’rupturas e continuidades no discurso sobre Aids nos Estados Unidos (1987-98). Dez 2002, vol.9, no.3

Marques, Maria Cristina da Costa. Saúde e podera emergência política da Aids/HIV no Brasil. 2002, vol.9

Xavier, Caco. Aids é coisa séria! – humor e saúdeanálise dos cartuns inscritos na I Bienal Internacional de Humor, 1997. Jun 2001, vol.8, no.1

Ayres, José Ricardo de Carvalho Mesquita. Ruína e reconstruçãoAIDS e drogas injetáveis na cena contemporânea. Nov 1996, vol.3, no.3

Ferreira, Andréa Rocha. Quebrando o silênciomulheres e Aids no Brasil. Out 1996, vol.3, no.2 Bastos, Cristiana. 

As ciências da Aids e a Aids das ciências:o discurso médico e a construção da Aids. Out 1995, vol.2, no.2 , resenha de Cristiana Bastos para artigo de Kenneth Rochel de Camargo Jr. Aids e a Aids das ciências. Out 1994, vol.1, no.1 

Artigos em francês e espanhol: 

Bidegain, Evangelina Anahí. Una etnografía sobre personas viviendo con sida, calidad de la atención y construcción de la enfermedad. Abr 2019, vol.26, no.2.

Spesny, Sara Leon. Les politiques du corps: l’approche critique de Didier Fassin à l’épidemie du Sida en Afrique du Sud. Dic 2014, vol.21, no.4 

Torres-Ruiz, Antonio. Nuevos retos y oportunidades en un mundo globalizadoanálisis político de la respuesta al VIH/Sida en México. Set 2006, vol.13, no.3

Cueto, Marcos. El rastro del SIDA en el Perú. 2002, vol.9 Löwy, Ilana. Les métaphores de l’immunologieguerre et paix. June 1996, vol.3, no.1