Quijila: mudanças desde a África centro-ocidental às Minas Gerais do século XVIII

Fevereiro/2023

Prodigiosa lagoa descoberta nas Congonhas das Minas do Sabará. Fac-símile da edição de Lisboa: Na officina de Miguel Manescal da Costa, Impressor do Santo Officio, 1749. Exemplar do Instituto de Estudos Brasileiros. Fonte: Biblioteca Brasiliana Guita e José Midlin – USP.

Você sabe o que é quijila, ou kijila?

A partir de fontes portuguesas, inclusive dicionários, a historiadora Junia Ferreira Furtado, pesquisadora dos Programas de Pós-Graduação em História da UFMG e da Unifesp, investigou o conceito de quijila que, inicialmente, na África, constituía um tabu, mas no Brasil veio a se tornar uma doença. Ela é autora do artigo Doenças de africanos, doença africana: transformações da quijila, entre a África centro-ocidental e as Minas Gerais, Brasil, séculos XVII e XVIII, publicado na revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos (v. 30, 2023). 

No artigo, a pesquisadora busca a origem da quijila/kijila na cultura centro-ocidental africana, mais particularmente no universo cultural dos imbangalas (jagas) e das populações ambundos e kimbundos, que viviam nas regiões portuguesas de Angola e do Congo, nos séculos XVII e XVIII. Em seguida, investiga como foi estruturado, compreendido e transformado o conceito de quijila no continente africano a partir do século XVII, configurando-se, com o tempo, como uma interdição ritual ao consumo de alguns alimentos, cujo desrespeito poderia causar um mal e provocar a morte do transgressor. 

Transportada para o Brasil na esteira do tráfico negreiro pelo Atlântico, no século XVIII, em Minas Gerais, a quijila transformou-se numa doença que atacava negros africanos de diversas origens, sendo enquadrada pelos médicos locais no universo da medicina hipocrática-galena vigente até o século XIX, conforme foi registrado num livreto intitulado Prodigiosa lagoa descoberta nas Congonhas das Minas do Sabará, publicado em 1749 em Lisboa. A publicação relata a descoberta do poder curativo das águas da chamada lagoa Grande, na comarca de Sabará, em Minas Gerais, hoje lagoa Santa, e as curas de vários enfermos que beberam ou se banharam em suas águas. Finaliza com uma longa lista que nomeia os mais de 100 primeiros doentes que tomaram os banhos e cujas queixas foram curadas ou mitigadas.

Leia na revista HCS-Manguinhos:

Doenças de africanos, doença africana: transformações da quijila, entre a África centro-ocidental e as Minas Gerais, Brasil, séculos XVII e XVIII, artigo de Junia Ferreira Furtado (História, Ciências, Saúde – Manguinhos, v. 30, 2023).