Abril/2021
Diego Vaz Bevilaqua | Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz *
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) vem investindo em divulgação e popularização da ciência de forma sistemática nas últimas quatro décadas, tendo, inclusive, sido contemplada com o Prêmio José Reis de Divulgação Científica e Tecnológica em 2015. No entanto, suas atividades nessa área têm origem muito anterior, existindo desde o início do século XX. Mas quem são os divulgadores da ciência de uma instituição de grande porte como a Fiocruz? Como se organiza um sistema de divulgação e popularização da ciência e como ele se articula com o discurso institucional, visto que cada vez mais essa atividade é compreendida como parte integrante do fazer científico?
Quatro pesquisadores da Fiocruz levantaram as posições institucionais relativas a esse campo do conhecimento em relatórios internos desde 1989 e mapearam as atividades correntes entre os anos de 2015 e 2016. Dessa forma, puderam descrever a organização interna dessas atividades dentro da instituição e comparar com outros mapeamentos internacionais realizados em diferentes contextos. O estudo permite preencher uma lacuna no mapeamento de atividades de divulgação científica, pois pouco se conhece como de fato elas se organizam dentro de organizações de grande porte, como institutos de pesquisa e universidades.
A análise realizada dentro da Fiocruz permitiu aos pesquisadores perceber que a atividade foi valorizada nessas últimas quatro décadas e o seu papel dentro da instituição acompanhou as evoluções do próprio campo. As atividades são executadas por quase todos os diferentes institutos, porém em cada local assume características próprias, de acordo com as diferentes áreas de atuação e vocações. Há uma concentração de atividades em sua sede que fica no campus de Manguinhos na cidade do Rio de Janeiro, em particular em seu museu de ciência, o Museu da Vida que é um lócus central de atuação nesse campo. Porém, esse mapa vem se descentralizando.
A Fiocruz assume um posicionamento claro em relação a práticas dialógicas em seus documentos e isso aparece refletido em muitas de suas ações, algumas convergindo para ciência cidadã e engajamento da população. Porém, ainda há ações que se utilizam de um modelo de déficit, levando a uma relação vertical entre a instituição e a sociedade nesses casos. Há, também, um baixo número de grupos de pesquisa, em torno de 10%, que se dedica a realizar ações nessa área, apesar do grande número de atividades.
No entanto, as questões mais críticas no estudo apontam para uma baixa capacidade de cooperação interna entre as ações e a baixa sinergia que existe entre elas, fato que vem sendo apontado também em relatórios internos. Para potencializar essa colaboração interna, é sugerido o desenvolvimento de sistemas e políticas, a exemplo de outras instituições que seguiram por esse caminho. A organização das atividades da Fiocruz anualmente na Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, que agrega todas as unidades da instituição, é descrita no estudo como a ação que vai na contramão dessa dificuldade e cria oportunidades de cooperação.
Através da análise dessas atividades como um sistema, os autores do artigo Uma análise das ações de divulgação e popularização da ciência na Fundação Oswaldo Cruz, publicado na revista HCS-Manguinhos (vol. 28 n. 1, mar. 2021), procuraram colaborar com as políticas da área, descrevendo sua organização institucional de forma a permitir uma melhor relação entre esse sistema e diferentes esferas públicas.
* Diego Vaz Bevilaqua é professor do Programa de Pós-graduação em Divulgação da Ciência, Tecnologia e Saúde e assessor de Divulgação Científica da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz. Ele é coautor, com a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, e outros pesquisadores da Fundação, de artigo publicado na revista HCS-Manguinhos (vol. 28 n. 1, mar. 2021)
Leia na revista HCS-Manguinhos:
Uma análise das ações de divulgação e popularização da ciência na Fundação Oswaldo Cruz, artigo de Diego Vaz Bevilaqua, Heliton da Silva Barros, Loloano Claudionor da Silva (In memoriam), Maria Inês Rodrigues Fernandes e Nísia Trindade Lima (HCS-Manguinhos, vol. 28 n. 1, mar. 2021)
Como citar este post:
Quem divulga ciência na Fiocruz? Diego Vaz Bevilaqua. Blog de HCS-Manguinhos. Publicado em 13 de abril de 2021. Disponível em http://www.revistahcsm.coc.fiocruz.br/quem-divulga-ciencia-na-fiocruz/