Quantidade ou qualidade?
Sob crescente pressão para publicar mais a cada ano, cientistas de países em desenvolvimento vivem um dilema: quantidade vale mais do que qualidade? Estariam as métricas quantitativas promovendo uma melhora ou uma distorção científica?
O movimento ‘slow science‘ (‘ciência lenta’) afasta-se da ênfase na produtividade e defende que a qualidade deve prevalecer sobre a quantidade. Seus adeptos argumentam que, sob pressão para publicar, resta aos cientistas pouco tempo para pensar sobre questões que exigem discussão aprofundada e reflexão, tais como a redução da pobreza e o desenvolvimento de uma vacina contra o câncer.
O slow science nasceu na Alemanha em 2010 e tem sido muito popular em países desenvolvidos como os EUA, que tem uma forte capacidade científica. O manifesto do movimento argumenta que o foco na produtividade limita a criatividade dos pesquisadores e os impede de dedicar tempo para pensar, ler e falhar. Os adeptos afirmam que a necessidade de publicar mais leva à produção de artigos mais curtos, com discussões superficiais, críticas quantitativas ao invés de descritivas e à substituição de artigos baseados em trabalhos de campo por artigos com base em modelos.
Para Rafael Loyola, chefe do Laboratório de Biogeografia da Conservação e professor de Ecologia e Evolução da Universidade Federal de Goiás, apesar de o movimento ser atraente para alguns, ele deve ser encarado com precaução em países onde as capacidades de investigação ainda estão em desenvolvimento. De acordo com o pesquisador brasileiro, concentrar-se na produtividade é um passo difícil, mas necessário para o estabelecimento de um sistema mais maduro, em que a qualidade dos artigos possa substituir a quantidade. “Acredito que a ciência lenta não funciona para os países em desenvolvimento”, afirma em artigo publicado em Scidev.Net.
Segundo Loyola, após a implantação, no Brasil, na década passada, da métrica quantitativa para avaliar o desempenho dos pesquisadores, a ciência melhorou, o que se percebe não só pelo aumento do número de artigos publicados em revistas de alto impacto como pelo estabelecimento de novas redes de pesquisa. A produção regular de artigos também teria estimulado a melhora da investigação científica. E, por fim, a maior produtividade teria levado ao aumento dos financiamentos. De acordo com o autor, a situação é semelhante em outros países latino-americanos, como Argentina, Colômbia e México, onde a pressão de agências e instituições de financiamento por publicação de artigos tem levado ao aumento da sua classificação científica na região. Ele cita ainda a China, onde o crescimento econômico e a pressão para publicar teria aumentado dramaticamente a qualidade da ciência e da tecnologia. No artigo, Loyola enumera diversos outros argumentos em favor da produtividade.
Fonte: Scidev.net
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