Quando a divulgação pauta a própria revista

Dezembro/2024

Marina Lemle | Blog de HCS-Manguinhos

Mariana de Moraes Silveira

Mariana de Moraes Silveira

As entrevistas em vídeo são, de longe, o conteúdo de divulgação mais interessante produzido pela revista Varia Historia do ponto de vista acadêmico, segundo a historiadora Mariana de Moraes Silveira. Editora de mídias sociais e ex-editora-chefe da revista da Pós-Graduação em História da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais, Mariana apresentou a experiência da publicação com meios online na mesa “Divulgação de periódicos científicos na área de ciências humanas”, que encerrou o evento em comemoração aos 30 anos da revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos, em 8 de agosto de 2024, na Fiocruz.

O canal no YouTube da Varia Historia, criado em 2015 pela professora Regina Horta Duarte, então editora-chefe da revista, já tem mais de 120 vídeos publicados, seja de entrevistas com autores de artigos publicados na revista ou vídeos temáticos. Por exemplo, em 2020, quando a Varia História completou 35 anos, foram criadas duas playlists no YouTube: uma sobre as funções de uma revista acadêmica e outra sobre os 35 anos da revista.

As entrevistas são postadas sempre às sextas-feiras. Na semana anterior, é lançado um teaser e são postados reels no Instagram. Segundo ela, graças a parcerias com outras entidades de história, o número de visualizações das entrevistas começa a ficar interessante. As editoras seguem fazendo experimentos, como a publicação, simultânea, de uma entrevista em texto na revista e em vídeo no YouTube – mídias que dialogam com públicos diferentes.

Também lançado em 2015, o Facebook segue sendo a rede da revista com mais seguidores, mas é a menos importante, segundo Mariana. Ela explicou que a revista acompanhou o “processo de Instagramização” das redes sociais, em referência à popularização do Instagram em detrimento do Facebook. No Instagram, são feitas duas divulgações de artigo por semana, com uma imagem e uma pequena descrição, além das chamadas para as entrevistas no YouTube. Como o Instagram não permite a indicação de links nos posts, há uma preocupação especial com a organização dos posts no feed e com o seu design, que deve seguir a mesma lógica. 

Mariana destacou a relevância do editorial de número 80, de maio/agosto 2023, que instiga a pensar “como e por quê, apesar de todas as inovações, continuamos publicando monografias em miniatura”. Citando Roy Rosenzweig, ela sugeriu pensar o que e como as revistas podem fazer de diferente a partir do hipertexto. “Na área de história da historiografia, isso tem sido feito de forma muito interessante, e nos leva a pensar e escrever de outra forma”, disse.

Além das redes e dos vídeos, a Varia História também produz textos para o blog SciELO em Perspectiva. Um recurso ainda pouco utilizado e que poderia ser um espaço interessante de ser ocupado, segundo Mariana, é a criação de vídeos em creative commons, como, por exemplo, um vídeo para divulgação de um evento sobre teoria da história na Wiki. Segundo ela, a Wikimedia Commons é mais ampla e complexa que Wikipedia.

Para encerrar, após grifar o endereço da revista “em todos os lugares” – @variahistoria -, Mariana encerrou com interrogações para o futuro: “Quais as fronteiras da divulgação científica que as revistas ainda têm ocupado pouco?”; “Como e por que as atividades de divulgação científica podem, elas próprias, transformar o conteúdo das revistas?”

Efemérides para divulgar artigos

Roberta Cardoso Cerqueira

Roberta Cardoso Cerqueira

Editora-executiva da revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos, primeira e maior entusiasta da ideia de se criar para a revista um blog e redes sociais para divulgação do seu conteúdo, há 12 anos, a historiadora Roberta Cardoso Cerqueira é muito mais do que testemunha ocular da história. Ela é protagonista na sua construção, o que ficou muito evidente na sua apresentação na mesa.

Roberta relembrou do Seminário “Introdução ao uso de redes sociais na comunicação científica”, organizado pela SciELO, Ibict e Fiocruz em 2012, e do apoio de um edital da Ipea que viabilizou a produção e o lançamento, em 6 de junho de 2013, do Blog e dos perfis no Facebook e no Twitter da revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos.

Nestes 11 anos, a equipe editorial observou alguns fenômenos: entrevistas com pesquisadores são atrativas para o público especializado; é recomendável a publicação de matérias que envolvam os temas de pesquisa que a instituição desenvolve ou o periódico edita; conteúdos em evidência relacionados ao escopo da pesquisa ou da revista (links, eventos, seminários, efemérides) são boas estratégias para a divulgação dos artigos; boas imagens ou fotos dos autores e autoras dos artigos ajudam a atrair leitores; buscar perceber quais temas despertam ou podem despertar maior interesse dos leitores. Além disso, parcerias institucionais e o planejamento junto à Assessoria de Comunicação ajudam a divulgar a revista e seus veículos. 

Tempo editorial em tempos de pandemia

Assim como os textos da revista pautam os meios online, o inverso também pode se tornar verdadeiro, principalmente quando o tempo editorial necessário à produção de um número de um periódico científico não atende às necessidades prementes de divulgação científica de uma emergência sanitária, como foi o caso da pandemia de Covid-19.

Diante da urgência em repercutir o tema, o Blog e as redes sociais foram extremamente úteis para a revista. Ainda em meados de 2020 foi criada a seção História e Coronavírus nos blogs em português e em inglês e espanhol, onde foram publicados textos de pesquisadores da América Latina, França, Estados Unidos e Índia sobre as condições da Covid nos respectivos países. 

O conteúdo ficou tão bom que, em tempo recorde, os textos foram adaptados e atualizados para as páginas do periódico, com a criação da seção “Testemunhos Covid-19”, que publicou textos fundamentais, como Archivos digitales para historiadores: investigar en tiempos de pandemia, de Patricia Palma (História, Ciências, Saúde – Manguinhos, v. 28. n. 1. jan.-mar/2021), publicado originalmente em julho de 2020 na seção sobre Covid-19 no Blog em espanhol. A experiência de retroalimentação foi tão positiva que levou ao lançamento, após o fim da pandemia, do suplemento “Covid-19 na América Latina: conflitos, resistências e desigualdades” (n. 30, 2023). 

“É possível trabalhar os espaços de mídia social como espaço de informação das nossas áreas”, concluiu Roberta, e, como boa cientista, também encerrou sua fala com perguntas: “Quais as próximas ações para ampliar a divulgação da revista? Que novas frentes? Instagram? Wikipedia?” Que venha 2025!

Conteúdo científico: direito cidadão

José Ragas

José Ragas

José Ragas, da Pontificia Universidad Católica de Chile e da revista Tapuya, comentou o quanto as redes sociais mudaram o debate sobre divulgação científica e também as próprias publicações científicas, ao darem uma série de opções, possibilidades e desafios, que não se limitam a abrir contas no Facebook ou Twitter, pois as redes mudam constantemente, assim como as opiniões das pessoas.

“No Chile, o ditado “publish or perish” (publicar ou perecer) ganhou uma nova dimensão, já que não basta publicar e ter um link ou um arquivo PDF para divulgar o trabalho, mas sim como ter um impacto maior na sociedade através do alcance das redes sociais”, exemplificou.

Segundo ele, com a Covid e a proliferação de notícias falsas, a divulgação de conteúdo científico é um tema já consolidado como uma demanda não apenas em periódicos científicos, mas também na academia e na opinião pública, além de um direito cidadão. A seu ver, os periódicos puderam proporcionar uma boa divulgação científica e se posicionar de maneira até melhor do que as universidades e centros de pesquisa, ao compartilhar material verificado a um público vasto, repensar a sua natureza e posicionar-se como espaços de encontro acadêmico junto a organizações científicas e divulgadores independentes, favorecendo a interação e estimulando debates públicos.

Rajas mencionou o Blog da revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos como um bom exemplo de oferta de conhecimento científico acessível e atual, e destacou três elementos utilizados nas redes da revista Tapuya para a divulgação de conteúdos e dar visibilidade aos estudos de ciência e tecnologia: Biblioteca (indicações de leituras online), Editor’s Picks (recomendações dos editores, incluindo Podcasts) e vídeos de autores contando o que estão pesquisando. Para Rajas, encontros como os proporcionados por HCS-Manguinhos ajudam todos a avançarem nesses novos desafios.

Assista a fala de José Ragas, seguida das falas de Germana Barata, Mariana de Moraes Silveira e Roberta Cardoso Cerqueira:

A mesa contou também com a participação de Ronaldo Araújo (Universidade Federal de Alagoas), Germana Barata (Universidade Estadual de Campinas) e mediação de Vivian Mannheimer (Ascom/Casa de Oswaldo Cruz/Revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos). Esta reportagem encerra a série de matérias sobre o evento de 30 anos da revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos. Leia a cobertura completa e veja os respectivos vídeos nos links abaixo. Feliz ano novo!

Leia mais:

Ciência aberta para quem?

Um artigo estar em acesso aberto não significa que o conhecimento esteja acessível a não especialistas de forma que possam entender e usar, explica Germana Barata, do Labjor/Unicamp. Ela evocou compromissos da divulgação científica com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) na sua apresentação no evento de 30 anos da revista HCS-Manguinhos.

Periódicos de humanidades tecendo rumos da divulgação científica

Editores discutem desempenho de revistas nas redes sociais e caminhos a trilhar. Ronaldo Araújo apresenta estudo sobre periódicos indexados na base SciELO.

Rio de Janeiro é o estado brasileiro com mais periódicos de História

Das 208 revistas brasileiras indexadas na área de História, 101 (48,6%) são do Sudeste. Os dados foram expostos por Marcos Eduardo de Sousa na mesa “Qualis Periódicos na área de história”, no evento de 30 anos da revista HCS-Manguinhos. Já Marcus Leonardo Bomfim Martins, editor da revista História Hoje, abordou os desafios à interdisciplinaridade, questão especialmente sensível ao periódico aniversariante.

Ciência aberta: além de produtos, processos

Editores de periódicos de ciências sociais e humanas contam suas experiências com ciência aberta no evento em comemoração aos 30 anos da revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos.

Usos e limites da Inteligência Artificial Generativa na comunicação científica

Em apresentação no evento em comemoração aos 30 anos da revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Sônia Menezes, editora da Revista Brasileira de História e professora da Universidade Regional do Cariri, explicou que a GenAI pode gerar conteúdos de forma autônoma em texto, imagem, vídeo e áudio, além de corrigir, traduzir e até melhorar argumentos. Mas há questões éticas e cada publicação tem suas regras.

Ciência aberta na Fiocruz: um “ecossistema”

Do acesso aberto aberto dos nove periódicos científicos até plataformas online que promovem a ciência cidadã, a ciência aberta na Fundação Oswaldo Cruz é como um “grande guarda-chuva de práticas e iniciativas”, conforme apresentou a coordenadora do Fórum de Editores Científicos da Fiocruz, Vanessa Jorge, no evento de 30 anos da revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos.

A pesquisa como bem público, e não como mercadoria

Editor-científico do periódico História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Marcos Cueto explicou que o modelo comercial das grandes editoras do Norte Global cobra altos valores de assinatura a bibliotecas e leitores e glorifica indicadores controversos como o fator de impacto. Ele participou da mesa Ciência aberta nas revistas científicas de humanidades no evento de 30 anos da revista da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz.

Manguinhos, para os íntimos

Há 30 anos, Ruth Martins, Jaime Benchimol e Paulo Gadelha participaram da criação da revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos. Eles contaram suas memórias na mesa de abertura do evento comemorativo pelas três décadas do periódico científico da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz.

Trinta anos de capas da revista HCS-Manguinhos num arquivo só

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Ciência aberta e os periódicos de ciências humanas: o evento online dos 30 anos da HCS-Manguinhos

Assista as mesas no YouTube da Casa de Oswaldo Cruz

30 anos de HCS-Manguinhos: revista inovadora desde a concepção

“Uma pérola”. Assim o diretor da Casa de Oswaldo Cruz, Marcos José de Araújo Pinheiro, descreve o periódico da Casa. Ele conversou com o Blog de HCS-Manguinhos após a mesa de abertura do evento Ciência aberta e os periódicos de ciências humanas

Três décadas nada triviais para uma revista científica de história das ciências e da saúde

“Dupla mirada no passado e no futuro é peça-chave para se posicionar nesse mundo em transformação”, afirma André Felipe Cândido da Silva, pesquisador da Casa de Oswaldo Cruz e ex-editor-científico de História, Ciências, Saúde – Manguinhos

Divulgação científica em humanidades inova nas redes sociais

No evento em comemoração aos 30 anos da revista HCS-Manguinhos, Ronaldo Araújo, da Universidade Federal de Alagoas, apresentará dados de 122 revistas da coleção SciELO Brasil ativas no Facebook e o desempenho que obtiveram nos últimos cinco anos

História nas redes sociais amplia públicos e acesso ao conhecimento

“As revistas científicas têm sido desafiadas a ampliar a comunicação de seus resultados para além dos especialistas. A revista História, Ciência, Saúde de Manguinhos fez movimentos pioneiros nesta direção”, afirma Germana Barata, do Labjor/Unicamp. Ela participará, nesta quinta, 8/8, da mesa “Divulgação de periódicos científicos na área de ciências humanas”, que encerra o evento em comemoração aos 30 anos da revista.

A ciência aberta e os periódicos de ciências humanas

Em 2024, a revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos completa 30 anos de publicação ininterrupta. Para celebrar o aniversário, preparamos um encontro para discutir os rumos da ciência aberta, da avaliação de periódicos e da divulgação científica em humanidades. Assista no YouTube!

HCS-Manguinhos: fonte fundamental de bibliografia

A pesquisadora e professora Lorelai Kury recomenda o periódico da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz como fonte inicial para quem está em vias de começar uma pesquisa na área de história das ciências. Em comemoração aos seus 30 anos, a revista realiza, em 7 e 8/8, o evento “Ciência aberta e os periódicos científicos de ciências humanas”. Assista pelo YouTube!

Jaime Benchimol: “Tiro o chapéu em homenagem à bravura da equipe de HCSM”

Editor-científico de História, Ciências, Saúde – Manguinhos por quase 20 anos, até 2015, o historiador enfatiza que a revista “resistiu bravamente aos tempos adversos do governo fascista de Jair Bolsonaro, cujos esbirros fizeram de tudo para estrangular a revista, privando-a de recursos e até mesmo – suprema covardia! – de seu vínculo com a área de História”

Charles Pessanha: um cientista em defesa da publicação científica brasileira

Como editor adjunto da revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos, sempre trazia comentários, sugestões e informações sobre o estado da arte da publicação científica no Brasil e no mundo. “Generoso, compartilhou comigo suas experiências e as tantas histórias em uma longa entrevista em 2022”, conta, comovida, Roberta Cardoso Cerqueira, editora-executiva da revista.

HCSM é um espaço aberto a convivências de diversas perspectivas”, afirmava Paulo Gadelha em 1994

Diretor da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz) de 1985 a 1997, o ex-presidente da Fiocruz (de 2009 a 2016) assina o primeiro texto da revista (História, Ciências, Saúde-Manguinhos, v. 1, n.1, jul/out, 1994). Gadelha participará da mesa de abertura do evento comemorativo de 30 anos da revista, Ciência aberta e os periódicos científicos de ciências humanas, em 7 e 8 de agosto, com transmissão pelo YouTube!

Trinta anos da revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos. Participe!

Lançada em 1994 pela Casa de Oswaldo Cruz, revista tem acesso aberto e publica artigos inéditos, entrevistas e resenhas de livros. Entrou no portal SciELO no ano 2000 e em 2013 foi pioneira na “blogosfera” e nas redes sociais, com conteúdo em português, inglês e espanhol. Assista ao evento comemorativo online!