Qual Europa para qual Brasil?

Julho/2014

Hermann Ullmann

Hermann Ullmann

Qual Europa para qual Brasil? É essa pergunta que norteia a discussão da professora do Departamento de História da Universidade de São Paulo, Karen Lisboa, com base nas ideias de Hermann Ullmann, publicista e historiador, e Stefan Zweig, famoso escritor de contos, romances e biografias históricas, além do best seller País do futuro: Viagem pelo Brasil. Karen investiga se, aos olhos desses autores, a Europa podia ainda servir de modelo civilizatório para o Brasil. É importante lembrar que tanto Ullmann quanto Zweig testemunharam as consequências da crise do imperialismo, as duas grandes Guerras Mundiais e a ascensão do nazismo. Esse contexto sociopolítico impeliu-os a deixarem suas pátrias na Europa central.
Stefan Zweig

Stefan Zweig

Zweig criticou o conceito europeu de civilização e enxergou no Brasil uma sociedade multiétnica e miscigenada, tal qual um paraíso racial. Apesar desse entusiasmo, Zweig e Ullmann jamais abandonaram a ideia de que o Brasil, no que tange à formação cultural (educação, arte, literatura, música etc) ainda estaria lançando os seus primeiros passos e que, portanto, precisaria ainda da referência europeia. Ao longo da análise a pesquisadora esmiúça pontos convergentes e divergentes dos autores sobre o papel da Europa como “formadora” nos espaços periféricos, como o Brasil. Discute a emigração europeia considerada baluarte do processo civilizatório em regiões não europeias, levando em conta também seu potencial de branqueamento de uma sociedade mestiça e o próprio posicionamento do Brasil no período Vargas com sua política de nacionalização e imigração restritiva. Explora os diagnósticos dos autores quanto a necessidades econômicas, sociais e culturais do país. Enquanto a pujante natureza e a opulência de recursos naturais emprestariam ao Brasil um lugar de destaque no contexto global, o atraso tecnológico e certa debilidade nos recursos humanos revelariam a dependência do país para com a Europa e os EUA, nação cada vez mais importante no contexto latino-americano e europeu. Zweig e Ullmann questionam em vários aspectos as atitudes eurocêntricas e hierarquizantes por parte dos europeus, sugerindo novas formas de relação entre as diferentes regiões, pleiteando um tratamento recíproco e mais igualitário entre o Velho Mundo e o Novo Mundo. Nesse sentido, eles simpatizam com o governo Vargas, ao fazer vista grossa à ditadura e ao enaltecer o processo de modernização conservador, bem como ao elogiar uma postura mais afirmativa dos brasileiros. O artigo “Entre o passado europeu e o futuro americano: dois ensaios sobre o Brasil da década de 1930” está publicado na revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos, v.21, n.1, jan.-mar. 2014.