Professores universitários do Rio divulgam Carta

O Laboratório de Direitos Humanos (LADIH) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) divulgou, em 24 de junho de 2013, a Carta aberta dos professores universitários do Rio de Janeiro: “Nós, professores universitários do Rio de Janeiro abaixo assinados, dirigimo-nos a todos, pela importância das recentes manifestações, e, em particular, aos estudantes, que estão fortemente engajados no aprofundamento da democracia, das liberdades e da igualdade no Brasil. Antes de tudo, expressamos veementemente nosso repúdio à violência imposta pelas polícias estaduais aos estudantes, muitas das quais presenciamos, outras que nos foram relatadas por nossos alunos, e ainda outras tantas veiculadas pelas redes sociais. Essa arbitrariedade não atinge somente a eles; fere a democracia no que lhe é mais caro: a liberdade e os limites legais aos quais a ação do Estado deve se ater rigidamente. A luta por direitos, democracia e serviços públicos de qualidade no Brasil é centenária. Tem em sua história passada e presente o concurso de movimentos, sindicatos, partidos políticos de esquerda, pessoas enfim, que, como os de agora, sabem que a boa política se faz com instituições republicanas e participação popular. A juventude brasileira, hoje e em outras épocas, sempre disponibilizou sua energia e seus ideais para a construção de um país mais justo, ao lado de trabalhadores urbanos e rurais. A utilização das redes sociais é a novidade trazida para o cenário da política no Brasil. O ato pela redução das tarifas do transporte coletivo em São Paulo foi fortemente reprimido pela polícia estadual e vilipendiado pelas mídias tradicionais, obtendo, pela capilaridade das redes sociais, a imensa solidariedade e adesão da população, dando vitória àquela pauta em várias cidades do país. A pluralidade das reivindicações levadas às ruas por este processo colocou no centro da agenda política, positivamente, a qualificação dos sistemas públicos de transporte, como também os de saúde e educação. Em paralelo à repressão, os interesses políticos antidemocráticos tentaram também parasitar a energia das manifestações para delas extrair seu vigor. Desestabilizaram a atitude plural, inclusiva e pacífica das manifestações, estimulando o conflito entre a multidão e movimentos sociais, sindicatos e partidos políticos, historicamente reconhecidos pelas lutas por liberdades públicas e igualdade social. Pretenderam imprimir às reivindicações um caráter fascista, de todo contrário ao sentimento de reconhecimento alcançado pelas ruas. Pelo exposto, e diante de tantas informações controversas que nos assolaram nos últimos dias, reafirmamos veementemente nossa luta cotidiana: 1- Pela democracia como esforço coordenado entre vontade popular, instituições e procedimentos, sendo todos os cidadãos autores e destinatários das regras de convivência; 2- Por uma democracia plural, inclusiva e vigorosa, para a qual são indispensáveis as várias organizações e movimentos sociais, os partidos políticos e a instituição do Parlamento; 3- Pelo respeito à ampla liberdade de expressão, associação e manifestação, observando os direitos fundamentais, e pelo repúdio radical à sua repressão violenta e arbitrária; 4- Pelo direito à presunção de inocência, à ampla defesa e ao devido processo legal, que são garantias institucionais legadas pelas conquistas democráticas brasileiras; 5- Em repúdio à criminalização dos movimentos sociais e sua livre manifestação, à violência repressiva e arbitrária da atuação policial, aos cercos territoriais de exceção, às prisões e aos encarceramentos indiscriminados, que falseiam a democracia; 6- Pelo rechaço à cobertura tendenciosa e comprometida da imprensa escrita e televisionada que reinterpreta os fatos de acordo com as conveniências políticas e econômicas dos conglomerados midiáticos, o que implica a urgência da democratização dos meios de comunicação; 7- Pelo não reconhecimento do anonimato como uma boa forma de participação política nas democracias, porque as ideias sem rosto se prestam magistralmente à apropriação por interesses que não se mostram, mas querem parasitar as energias legítimas da população. Entendemos, por fim, que o momento é rico. A Constituição de 1988, marco da nossa recente redemocratização, completa 25 anos. Às lutas que a antecederam e sucederam, devemos não apenas a estabilidade das instituições democráticas, mas também os inegáveis desenvolvimentos na inclusão social. É deste patamar que a rua expõe sua disposição e seu saber: o país está no momento de avançar nas reformas no transporte, na saúde, na educação. Democracia não é apenas voto, nem somente rua. A sua realização exige a ampliação dos intérpretes das demandas sociais e a abertura do sistema político à participação popular.” Rio de Janeiro, 24 de junho de 2013 Gisele Silva Araújo – UNIRIO Rogerio Dultra dos Santos – UFF Vanessa Oliveira Batista Berner – UFRJ Adriana Geisler – PUC-Rio Adriana Vidal de Oliveira – PUC-Rio Douglas Guimarães Leite – UFF Fabio Carvalho Leite – PUC-Rio Gisele Cittadino – PUC-Rio João Ricardo Wanderley Dornelles – PUC-Rio Luciana Boiteux – UFRJ Marcia Nina Bernardes – PUC-Rio Marilson Santana – UFRJ Mauricio Rocha – PUC-Rio Rodrigo Souza Costa – UFF Adriano Pilatti – PUC-Rio André Andre Videira de Figueiredo- UFRRJ Antônio Augusto Madureira de Pinho – UERJ Bethânia Assy – PUC-Rio Carlos Magno Sprícigo Venério – UFF Carlos Plastino – PUC-Rio Christiane Vieira Laidler – UERJ Daniele Gabrich Gueiros – UFRJ Darlan Montenegro – UFRRJ Eduardo Cruz – UNIRIO Ericka Marie Itokazu – UNIRIO Evandro Menezes de Carvalho – UFF/FGV Francisco de Guimaraens – PUC-Rio Geraldo Prado – UFRJ Gustavo Siqueira – UERJ José Maria Gomez – PUC-Rio José Paulo Martins Junior – UNIRIO José Ricardo Cunha – UERJ Ludmila Moreira Lima – UNIRIO Luiz Eduardo Motta – UFRJ Nilton José dos Anjos de Oliveira – UNIRIO Paula Campos Pimenta Velloso – UFF Paulo Cavalcante de Oliveira Junior – UNIRIO Sayonara Grillo Coutinho Leonardo da Silva – UFRJ Vladimir de Carvalho Luz – UFF Thamis Dalsenter – PUC-Rio Carlos Eduardo Martins – UFRJ Roberto Rosendo – UFF Cecilia Caballero Lois – UFRJ Luzimar Paulo Pereira – UFRJ José Rodrigues Duarte – UFRRJ Taiguara Libano Soares e Souza – IBMEC/RJ Bárbara Lupetti – UCP Mariana Cassab – UFRJ Rafael Haddock-Lobo – UFRJ Luiz Camillo Osorio Ana Paola Frare – UFF Benedito Fonseca e Souza Adeodato – UNIRIO Manoel Martins Júnior – UFF Juliana Neuenschwander Magalhães – UFRJ Alessandra Maia – PUC-Rio Leia mais: Editor vai às ruas e vivencia a História , por Jaime Benchimol Porque eu gosto das segundas-feiras, por Marcelo Badaró José Murilo de Carvalho: povo brasileiro despertou da letargia Em praça pública para construir uma pauta coletiva, entrevista com Angélica Müller ‘Mais do que narrar esses eventos, precisamos vivê-los intensamente’, entrevista com Valdei Araujo. 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