Abril/2021
Sabe-se que plantas, animais e minerais eram enviados do Brasil Colônia para estudo na Europa, mas a participação indígena na história natural e na ciência moderna costuma ficar em segundo plano na história. Cientes dessa lacuna de identificação da contribuição indígena na construção do conhecimento, Thiago Cancelier Dias, doutor em História pela Universidade Federal de Goiás (UFG), e Cristina de Cássia Moraes, professora do Departamento de História da UFG, investigaram o uso de aldeamentos indígenas na Capitania de Goiás no século XVIII como local de práticas científicas naturalistas.
No artigo Dos aldeamentos ao horto botânico: a apropriação de plantas de uso indígena na capitania de Guayases, 1772-1806, publicado em HCS-Manguinhos (vol. 28 n. 1, mar/2021), os autores discutem a presença de funcionários naturalistas e suas práticas nos aldeamentos fundados em terras indígenas, a criação de um horto botânico na capital Vila Boa e a apropriação e envio de plantas nativas de uso indígena para Portugal, para fins alimentares, medicinais, de cordoaria e tintura. Os pesquisadores utilizaram na pesquisa documentos portugueses pouco conhecidos pela historiografia de Goiás, da ciência e indígena.
Segundo os autores, a política colonial portuguesa englobava indígenas e recursos naturais em um mesmo plano de ocupação e exploração das terras dos sertões, que incluía a criação de jardins botânicos.
“Em tempos de precarização da política indigenista e ambiental, é cada vez mais atual e necessária a discussão sobre a apropriação pela ciência e governos dos conhecimentos indígenas sobre o mundo natural”, afirma Thiago Cancelier Dias, que é autor da tese O língua e as línguas: aldeamentos e mestiçagens entre manejos de mundo indígenas em Goiás (1721-1832).
Leia em HCS-Manguinhos:
Dos aldeamentos ao horto botânico: a apropriação de plantas de uso indígena na capitania de Guayases, 1772-1806, artigo de Thiago Cancelier Dias e Cristina de Cássia Moraes (vol. 28 n. 1, mar/2021)