Setembro/2019
Relatos de estrangeiros que observaram a escravidão no Brasil do século XIX mencionam que o suicídio era prática muito comum entre escravos. Eles descrevem as mortes voluntárias tanto na forma passiva, de recusar alimento e deixar-se morrer de tristeza, quanto na forma ativa, por enforcamento, afogamento, uso de armas brancas ou outra. Os motivos, quando mencionados, seriam decorrentes dos “desgostos do cativeiro”.
No artigo O suicídio de escravos em São Paulo nas últimas duas décadas da escravidão (HCS-Manguinhos, v.15 n.2 abr./jun. 2008), Saulo Veiga Oliveira, mestre em Ciências Biomédicas pela Unicamp, e Ana Maria Galdini Raimundo Oda, professora da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, apresentam os resultados de uma pesquisa realizada a partir de notícias publicadas na Gazeta de Campinas entre 1871 e 1887, documentos e estatísticas policiais da província de São Paulo do período.
Os autores analisam os dados apurados e buscam desfazer explicações simplificadoras que atribuem os suicídios de escravos apenas à sua situação de cativeiro. Para eles, suicídios não podem ser reduzidos a uma explicação única, seja de caráter sociológico, antropológico ou psicopatológico.
“Sendo os atos suicidas manifestações humanas irredutíveis a um único tipo de explicação, não parece justificável que entre escravos eles sejam ainda tomados como auto-explicáveis por sua mísera condição”, concluem.
Leia em HCS-Manguinhos:
O suicídio de escravos em São Paulo nas últimas duas décadas da escravidão, artigo de Saulo Veiga Oliveira e Ana Maria Galdini Raimundo Oda (v.15 n.2 abr./jun. 2008)