Magali Romero Sá: ‘Perda do acervo documental do Museu Nacional é inestimável’

Outubro/2018

Blog de HCS-Manguinhos

Para marcar um mês do incêndio que destruiu o Museu Nacional, publicamos depoimentos de pesquisadores que trabalharam com acervos perdidos. 

Hoje trazemos o depoimento de Magali Romero Sá, pesquisadora e professora do Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e da Saúde da Casa de Oswaldo Cruz da Fundação Oswaldo Cruz e atualmente vice-diretora de Pesquisa, Educação e Divulgação Científica desta unidade.

Quando você começou a pesquisar no Museu Nacional e com o que trabalhou?
Realizo pesquisas no Museu Nacional desde o final da década de 1970, quando entrei para a instituição como bolsista de aperfeiçoamento do CNPq. Nos anos de 1980, realizei meu mestrado nesta instituição na área de zoologia de invertebrados, estudando moluscos marinhos. Na década de 1990, quando estava pesquisando para meu PhD em História e Filosofia da Ciência, realizei no ano de 1993 um projeto com a pesquisadora e historiadora Heloisa Domingues para recuperar a documentação do arquivo administrativo histórico-científico do Museu, que se encontrava em estado precário de armazenamento, com apoio do então diretor da instituição Arnaldo Campos dos Santos Coelho. O “Projeto Memória do Museu Nacional” tinha como objetivo recuperar e preservar o material documental para colocá-lo à disposição de especialistas através de microfilmes.
Com apoio do professor Ildeu de Castro Moreira, do Instituto de Física da UFRJ, iniciamos a microfilmagem de parte da documentação nos laboratórios da Universidade. Infelizmente por problemas com as máquinas o trabalho não pode ser concluído na sua integralidade.
Porém, a documentação microfilmada relativa ao período imperial composta basicamente de oficios trocados entre a direção do Museu Nacional e os Ministérios governamentais, cartas, decretos administrativos e relatórios, foi preservada e, com certeza, constituirá, juntamente com outros materiais digitais guardados pelos arquivistas da instituição, e com o apoio de pesquisadores que possuem cópias digitais de documentos do acervo do Museu, o Acervo Arquivístico Digital do Museu em construção.
Como avalia o impacto dessa perda?
A perda do acervo documental é inestimável! Esse acervo armazenava a história do processo de desenvolvimento das ciências naturais no Brasil. A memória nacional nos campos da história natural e etnografia, das práticas diárias da instituição, do desenvolvimento das disciplinas científicas, das trocas e parcerias realizadas entre diferentes instituições, enfim, continha informações valiosíssimas para a reconstrução dos fatos históricos-sociais das ciências naturais no país.
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Leia em HCS-Manguinhos:
Sá, Dominichi Miranda de, Sá, Magali Romero and Lima, Nísia Trindade Telégrafos e inventário do território no Brasilas atividades científicas da Comissão Rondon (1907-1915). Set 2008, vol.15, no.3
Azevedo, Nara, Cortes, Bianca Antunes and Sá, Magali Romero Um caminho para a ciênciaa trajetória da botânica Leda Dau. 2008, vol.15
Benchimol, Jaime L. et al. Bertha Lutz e a construção da memória de Adolpho Lutz. Abr 2003, vol.10, no.1.
Sá, Magali Romero. O botânico e o mecenasJoão Barbosa Rodrigues e a ciência no Brasil na segunda metade do século XIX. 2001, vol.8
Maio, Marcos Chor and Sá, Magali Romero Ciência na periferiaa Unesco, a proposta de criação do Instituto Internacional da Hiléia Amazônica e as origens do Inpa. Set 2000, vol.6
Como citar este post:
Magali Romero Sá, entrevista ao Blog de História, Ciências, Saúde – Manguinhos, 2018. Publicado em 08 de outubro de 2018. Disponível em http://www.revistahcsm.coc.fiocruz.br/incendio-queimou-registros-unicos-da-vida-de-povos-que-aqui-habitaram-e-foram-dizimados-pela-colonizacao/