Os significados da história da saúde pública global

Outubro/2020

Karine Sá Antunes Rodrigues | Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz

“Quais os significados da história da saúde pública global?” As respostas reunidas na mais recente edição especial da revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos, de alguma forma, trazem contribuições para se analisar o atual contexto de pandemia. Os 12 artigos do volume 27 da publicação da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz) – disponível na íntegra  no portal SciELO – mostram como a história da saúde pública global é importante para a compreensão dos desafios locais, nacionais e internacionais na contemporaneidade, como o que enfrentamos com o vírus Sars-CoV-2. 

Capa da revista HCS-Manguinhos (v.27, supl.1, set. 2020). Clique para acessar o sumário e os artigos.

Para os editores convidados, Davide Rodogno e Nicole Bourbonnais, do Graduate Institute of Internacional and Development Studies, na Suíça, e Marcos Cueto (COC/Fiocruz), editor-científico da HSC-Manguinhos, a Covid-19, reconhecidamente um desafio, é também uma oportunidade para capitalizar experiências de sucesso no estudo histórico da cooperação em saúde além das fronteiras nacionais e para revigorar reformas e mudanças necessárias.

“Para historiadores preocupados com a saúde global, é um momento nobre para validar a importância de seu trabalho para compreender o presente e imaginar o futuro”, destacam, na nota introdutória.

Os artigos da revista são versões aprimoradas das palestras apresentadas na conferência “The meaning(s) of global health”, da Fundação Brocher na Suiça, em 2018, organizados por Cueto, Rodogno e Bourbonnais.

A edição especial da revista abre com uma análise de James Webb Jr., professor emérito do Colby College, nos Estados Unidos, sobre a importância da epidemiologia histórica no processo de tomada de decisões em saúde global, evidenciada em três campanhas globais de saúde pública: os esforços para o controle da ancilostomose (1909-1930), pela Fundação Rockefeller; o  projeto da Organização Mundial da Saúde (OMS) para erradicar a malária na África tropical, nas décadas de 1950 e 1960; e o empenho internacional para conter a transmissão do vírus Ebola durante os surtos na África tropical (1974-2019).

Já o artigo do professor da Universidade de Virgínia, nos Estados Unidos, Christian McMillen, detalha dois projetos monumentais levados a cabo durante a década de 1980 para garantir saneamento e água limpa para a população, fundamentais para o crescimento econômico e a saúde: o International Drinking Water Supply and Sanitation Decade e o Blue Nile Health Project.

Pesquisador da COC/Fiocruz, Jaime Larry Benchimol discorre sobre leishmanioses numa perspectiva histórica e global, dos anos 1930 aos 1960, descrevendo as abordagens para a produção de conhecimento e o controle dessas doenças, tão prevalentes no Brasil. O país tem o maior número de casos da leishmaniose tegumentar americana e, junto com a Índia, divide o posto de mais elevada incidência de leishmaniose visceral.

A publicação abre espaço também para um problema global inerente à assistência médica: os resíduos hospitalares. Iris Borowy, da Shanghai University, na China, discute as primeiras iniciativas globais para lidar com o problema, na década de 1980, e mostra como as estratégias para combatê-lo têm mudado ao longo do tempo. 

Professor emérito da Université Sorbonne-Paris, Patrick Zulberman analisa três episódios da história da saúde global ao abordar a gestão de doenças infecciosas entre meados dos séculos 19 e 21, com destaque para as fronteiras sanitárias.

Em tempos de Covid-19, Manon Sian Parry, da Universidade de Amsterdam, na Holanda, analisa outra pandemia, a de HIV. Ela questiona algumas das convenções de arquivamento e interpretação da história, que representariam de maneira inadequada o impacto da Aids em diversos grupos.

Completam a edição: estudo sobre a atuação da Organização Internacional do Trabalho (OIT) no período de 1925-2018; análise dos programas da OMS no desenvolvimento na virologia da Espanha, entre 1951 e 1975; pesquisa sobre a Liga Anti-Câncer e a sensibilização pública ao controle da doença na sociedade peruana, além de artigos sobre a cooperação regional e diplomacia em saúde na África, as metas e expectativas da OMS sobre a malária (1948-2019); e as zonas de demonstração sanitária na Europa (1950- e 1960).

Esta edição de HCS-Manguinhos traz ainda resenha sobre duas publicações que contribuem para o entendimento de importantes atores e políticas da saúde global: The World Health Organization: a history, de Marcos Cueto, Theodore Brown, Elizabeth Fee; e The politics of vaccination: a global history, de Christine Holmberg, Studart Blume e Paul Greenough.

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