Os intelectuais e o regime militar: oposição e cumplicidade

Março/2024

Havia oposição, mas também apoio de intelectuais aos governos militares no decorrer dos mais de 20 anos de vigência do regime militar no Brasil. Muitos intelectuais fizeram críticas ao regime em algum momento, mas, após a derrota da ditadura, esse aspecto tendeu a prevalecer, como se tivesse havido unanimidade na oposição ao autoritarismo. Algumas pesquisas têm questionado essa reconstituição do passado, mostrando que intelectuais tomaram posições políticas diferentes conforme cada conjuntura ao longo do período.

“Houve ambiguidades na sua convivência com o regime, tendendo à conciliação política e à acomodação de interesses corporativos e pessoais”, revela Marcelo Ridenti, professor titular de Sociologia na Unicamp. Ele abrirá o semestre do Encontro às Quintas nesta quinta-feira, 21 de março de 2024, às 10h, com a exposição Os intelectuais e o golpe de 1964: entre a oposição e a cumplicidade, tendo como debatedor Gustavo Rodrigues Mesquita (UnB). Haverá transmissão online pelo YouTube da Casa de Oswaldo Cruz

Na palestra, Ridenti tratará de um aspecto da sua pesquisa sobre a Guerra Fria cultural: a recepção ao golpe de 1964 por autores ligados direta ou indiretamente à revista Cadernos Brasileiros, sediada no Rio de Janeiro, que publicou 62 números de 1959 a 1970, com a colaboração de intelectuais de diversos espectros políticos. A revista era financiada pelo Congresso pela Liberdade da Cultura (CLC), sediado em Paris, cujo objetivo autoproclamado era a defesa da liberdade de expressão em escala internacional contra o totalitarismo, de esquerda ou de direita. Por volta de 1965, descobriu-se que o CLC era financiado secretamente pela Central de Inteligência dos Estados Unidos, a CIA, cujo patrocínio foi substituído por recursos da Fundação Ford.

O exame de diversos documentos, das matérias publicadas na revista Cadernos Brasileiros e da troca de correspondência entre os responsáveis pela revista – em âmbito internacional – revela, segundo Ridenti, que as relações dos intelectuais com o golpe de 1964 foram muito mais complexas do que o senso comum estabelecido a respeito. A pesquisa resultou no livro O segredo das senhoras americanas (ed. Unesp, 2022)

O Encontro às Quintas é promovido pelo Programa de Pós Graduação em História das Ciências e da Saúde da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz e tem coordenação do professor Marcos Chor Maio.

Serviço:

Encontro às Quintas
1ª sessão: 21/3 (Online) 
Os intelectuais e o golpe de 1964: entre a oposição e a cumplicidade
Expositor: Marcelo Ridenti (Unicamp)
Debatedor: Gustavo Rodrigues Mesquita (UnB)
Coordenação: Marcos Chor Maio / PPGHCS/COC/Fiocruz

Veja a programação completa do Encontro às Quintas no primeiro semestre de 2024