Julho/2017
Iara Vidal Pereira de Souza *
Estão abertas as inscrições para a
OpenCon, uma conferência internacional sobre acesso aberto, dados abertos e educação aberta voltada principalmente (mas não exclusivamente) para estudantes e profissionais em início de carreira. A edição deste ano acontecerá em Berlim, Alemanha, entre 11 e 13 de novembro.
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Promovida pela
SPARC e pela
Right to Research Coalition, organizações envolvidas com a promoção da ciência aberta, a OpenCon tem como foco a advocacy. O principal objetivo é motivar e preparar pessoas para promover práticas de ciência aberta em suas comunidades. A primeira edição aconteceu em 2014 na capital dos EUA, Washington DC. Acompanhei as discussões pelo Twitter à época e fiquei muito impressionada com a repercussão positiva da conferência. Tive a sorte de participar nas duas edições seguintes, a de 2015 em Bruxelas e a de 2016, novamente em Washington DC.
Meu envolvimento direto com a OpenCon começou quando fui convidada a participar do Comitê Organizador da edição de 2015 junto com estudantes, profissionais e ativistas de diversas partes do mundo. Foi uma experiência valiosíssima acompanhar a construção do evento em seus detalhes, em especial a seleção dos participantes. Este é um importante diferencial da OpenCon em relação a outros eventos: todos os interessados precisam passar por um processo de avaliação, respondendo a um questionário sobre seus conhecimentos, interesses e atividades relacionadas aos temas do evento: acesso aberto, dados abertos e/ou educação aberta. O objetivo é identificar pessoas que demonstram interesse em agir em prol da ciência aberta, mesmo que ainda não saibam exatamente o que pretendem fazer.
Outro motivo para a seleção prévia é que a maioria dos participantes recebe bolsas integrais ou parciais, cobrindo gastos de inscrição, transporte, hospedagem, e/ou alimentação (café da manhã/almoço). Dessa forma, os organizadores procuram evitar que os custos de uma viagem internacional limitem a participação de estudantes e profissionais em início de carreira, o principal público-alvo do evento. Universidades e outras instituições podem patrocinar a ida de seus próprios membros ao evento, mas estes ainda precisam passar pelo mesmo processo de seleção que os demais participantes.
A avaliação inicial das inscrições é feita por voluntários que participaram em edições anteriores. A seleção final é feita por membros da SPARC e Right to Research Coalition em conjunto com o Comitê Organizador da OpenCon, levando em conta as notas dadas pelos avaliadores voluntários e buscando sempre que possível o equilíbrio de gêneros e a diversidade geográfica.
A OpenCon costuma durar três dias de atividades intensas. Nos dois primeiros há mesas-redondas, palestras, workshops, apresentações relâmpago de projetos nos intervalos, e uma “desconferência” para aprofundar assuntos falados em outras sessões e/ou discutir tópicos não incluídos no programa principal. A programação é feita com a participação ativa dos congressistas (qualquer um pode propor um workshop ou sessão de desconferência, por exemplo). No terceiro e último dia acontece o chamado Advocacy Day, quando os participantes se reúnem com deputados, representantes ministeriais, diplomatas, profissionais de ONGs e outras autoridades.
Na OpenCon 2015, participei de uma mesa-redonda sobre avaliação da pesquisa falando da relação entre o acesso aberto e a altmetria, meu tema de pesquisa de mestrado e agora no doutorado. O tema avaliação foi discutido também num workshop e numa sessão da
desconferência, e as discussões deram origem a um
projeto de pesquisa atualmente em curso sobre práticas de avaliação e promoção em universidades dos EUA e Canadá. Narrativas como essa se repetem: discussões e encontros proporcionados pela OpenCon vão gerando ações coletivas de pesquisa/ativismo, fortalecendo e/ou dando origem a novas organizações (
OOOCanada,
Open Access Nigeria,
Open Access India etc). No ano passado, durante a
desconferência, participei da primeira sessão da OpenCon realizada em língua não-inglesa: uma reunião de latino-americanos que se tornaria o embrião da futura
OpenCon LatAm, um evento regional que pretende destacar as conquistas e os desafios específicos do nosso continente em relação à ciência aberta.
Todas estas foram experiências inesquecíveis, mas o maior destaque da conferência para mim é o Advocacy Day. A oportunidade de estar na mesma mesa com tomadores de decisão para defender o acesso aberto é uma das melhores coisas que a OpenCon me proporcionou. Em Bruxelas, falamos com representantes do parlamento europeu e de organizações como a Liga europeia de universidades de pesquisa (
Leru). Nos EUA, poucos dias depois da eleição de Donald Trump, estivemos em gabinetes de congressistas e em órgãos governamentais como o Departamento de Estado.
Muitos participantes
descrevem a OpenCon como a melhor conferência de suas vidas. São três dias muito intensos, conhecendo pessoas do mundo inteiro, conversando sobre seus projetos e ideias, fazendo planos para o futuro. É cansativo, mas ao mesmo tempo revigorante. O ativismo pela Ciência Aberta é cheio de obstáculos, e é fácil se sentir sozinho, remando contra a maré. Ao proporcionar o encontro de tantas pessoas com interesses semelhantes, a OpenCon se torna um espaço para encorajamento mútuo.
Essa energia da OpenCon não se limita aos eventos anuais, há um esforço para criar uma comunidade global atuante. Já é tradição a
OpenCon Live, que além de transmitir ao vivo o evento e fomentar o debate nas mídias sociais, oferece sessões exclusivas de perguntas e respostas (Q&A) com palestrantes e workshops virtuais. Há também um estímulo à promoção de
eventos-satélite locais e regionais (no Brasil, já ocorreram satélites na Universidade Federal do Ceará, em São Paulo e em Campinas). Além disso, são promovidas teleconferências mensais abertas à participação de todos, webcasts destacando temas de interesse, uma lista de discussão, uma hashtag ativa no Twitter, e muito mais – as diferentes formas de participação você encontra em
www.opencon2017.org/community. As inscrições para a próxima OpenCon estão abertas até o dia 1° de agosto. Para se candidatar a uma vaga, acesse
www.opencon2017.org/apply.
* Iara Vidal Pereira de Souza é bacharel em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (2004) e mestre em Ciência da Informação pela Universidade Federal Fluminense (2014). Atualmente cursa Doutorado em Ciência da Informação (IBICT-ECO/UFRJ), explorando o potencial da altmetria para a avaliação da pesquisa no Brasil.
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