Olhar empático e reflexivo de quem dá identidade visual à revista HCS-Manguinhos

ENTREVISTA | Fernando Vasconcelos

Por Roberta Cardoso Cerqueira | editora-executiva de História, Ciências, Saúde – Manguinhos

Fernando Vasconcelos

Fernando Vasconcelos

Responsável pela arte das capas e imagens de História, Ciências, Saúde – Manguinhos desde o embrião da revista, Fernando Vasconcelos vem desenvolvendo ao longo das décadas um “olhar empático e reflexivo”, que “converse com o conteúdo, valorize a identidade da revista e torne a experiência do leitor mais rica e envolvente”. 

Nos últimos anos, com o processo de digitalização da revista e a presença do periódico nas mídias sociais, o trabalho de Fernando Vasconcelos passou a circular mais e aprofundou a identidade visual da revista. Nessa entrevista concedida à editora-executiva Roberta Cardoso Cerqueira, ele conta como foi a sua história com a revista, explica o processo de trabalho, destaca a importância da UX – User Experience – aplicada ao contexto editorial de publicação científica.

Como foi o convite para começar a trabalhar com HCS-Manguinhos?

Eu havia trabalhado no final de 1989 com a Ruth Martins na elaboração dos Cadernos da Casa de Oswaldo Cruz, que foi o embrião do que viria a ser a HCSM. Quando o Sérgio Goes, idealizador da revista, se desligou da editoria científica, fui convidado no segundo semestre de 1994 pelo então diretor da Casa de Oswaldo Cruz, Paulo Gadelha, que assumiu a editoria naquele momento. Na época, eu já trabalhava com desktop publishing e tratamento de imagens, o que foi um diferencial importante para agilizar os processos de edição. Em seguida, o Jaime Benchimol assumiu como editor científico e propôs mudanças significativas no projeto gráfico, enriquecendo muito a estética da revista – especialmente no que diz respeito às capas e ao cuidadoso tratamento gráfico da iconografia, que passou a ser valorizado como parte essencial da identidade visual. Trabalhar com o Benchimol foi um enorme aprendizado, assim como com a Ruth, parceria de muitos anos que contribuiu para consolidar a identidade visual marcante e reconhecida que a HCSM até os dias atuais.

A revista é conhecida por ter uma identidade visual marcante. Sempre chamam atenção do público as imagens selecionadas e o trabalho de arte deste material. Você pode nos contar um pouco sobre o seu processo de criação?

Eu não sigo uma regra para desenvolver o processo de criação. Ele surge muito a partir de uma inspiração, de uma intuição que vai se moldando com o tempo. Muitas vezes, crio uma proposta de capa que, num primeiro momento acho incrível, mas depois reflito e percebo que pode ser aprimorada ou que não traduz exatamente a essência do tema. Aí procuro me colocar no lugar de vocês editores e equipe da revista e dos leitores: como essa imagem será percebida? Que mensagem ela transmite? Tento sempre pensar na experiência de quem vai receber esse conteúdo, o que se aproxima muito do que chamamos de UX (User Experience) – mas, neste caso, aplicado a um contexto editorial e de publicação científica. O UX editorial busca criar uma leitura agradável, intuitiva e significativa, combinando estética, clareza e coerência visual. Esse olhar empático e reflexivo é fundamental para garantir que o resultado final converse com o conteúdo, valorize a identidade da revista e torne a experiência do leitor mais rica e envolvente.

Há um cuidado ou uma preocupação especial quando você trabalha as imagens para uma revista científica como a HCSM? Esse processo mudou muito do impresso para o digital?

Sim. Geralmente as imagens chegam com qualidade bastante baixa, muitas vezes extraídas de impressos antigos ou de fontes na internet. Por isso, existe um processo cuidadoso de restauração e melhoria da resolução, para garantir que fiquem visualmente adequadas e fiéis ao conteúdo. A transição do impresso para o digital alterou muito pouco esse cuidado técnico. Basicamente, houve apenas a adequação das cores que passam de CMYK (para impressão) para RGB (uso digital) e a conversão de formatos – de TIFF para JPEG ou PNG. A resolução utilizada no impresso continua sendo mantida no digital, justamente para não comprometer a legibilidade quando o material é visualizado em PDF ou no site da SciELO. Além disso, com a evolução dos sites responsivos – que se adaptam automaticamente a diferentes dispositivos, como celulares e tablets –, hoje é possível trabalhar com tamanhos de imagem mais adequados e flexíveis, sem perder qualidade.

Quais os outros tipos de trabalho de criação que você também faz?

Eu precisei me adaptar e aprender novos processos dentro desse universo da criação. É essencial estar sempre atualizado, porque no mundo digital as exigências de conhecimento são cada vez mais imediatistas e dinâmicas. Pelo menos para mim, atuando como freelancer, não dá mais para ficar restrito apenas ao design gráfico, este faz parte de um conjunto maior de produtos que hoje desenvolvo, como projetos para sites e landing pages. Também roteirizo, produzo, filmo e edito pequenas produções institucionais e reels para redes sociais. Na área editorial, produzo em média quatro livros por ano, o que me proporcionou a conquista do segundo lugar como editor no Prêmio Jabuti de 2016, na categoria Economia, Administração e Negócios. Enfim, acredito que o aprendizado precisa ser constante para acompanhar as transformações e seguir inovando em cada projeto.

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