Dezembro/2020
O papel da mulher para a nação foi um dos temas em destaque no Primeiro Congresso Brasileiro de Eugenia, realizado no Rio de Janeiro em 1929. No artigo Problematizações das relações de gênero no primeiro Congresso Brasileiro de Eugenia: status da mulher, determinação de sexo biológico e controle reprodutivo (v. 27, n.3, jul./set. 2020), o biólogo Anderson Ricardo Carlos, mestre em Ensino e História das Ciências e da Matemática pela Universidade Federal do ABC, a bióloga e pedagoga Fernanda Franzolin e a historiadora Márcia Helena Alvim, ambas professoras do Centro de Ciências Naturais e Humanas da UFABC, dão um enfoque multidisciplinar a análises sobre os trabalhos apresentados naquele evento, considerado a maior manifestação pública da eugenia no Brasil.
Os autores discutem como o polêmico movimento científico buscou um “melhoramento genético” da raça humana, no início do século XX, olhando para a questão da mulher.
“Eugenistas pensavam na reprodução humana não como uma atividade individual ou como um resultado da sexualidade, mas tinham-na como uma responsabilidade coletiva, em que os indivíduos eram produtores de boa ou má hereditariedade. Foi no contexto da eugenia, mergulhado no sentimento nacionalista, acentuado especialmente na década de 1920, que a fertilidade da mulher se estabeleceu como um recurso crucial para a construção da nação. A mulher, a partir de seu papel reprodutor, tornou-se uma ponte entre a definição de raça e a nação. Portanto, o sexo feminino tinha a responsabilidade sobre o controle da prole, podendo ‘sujar’ seu útero ao mesclar-se com homens de outras raças ou condições consideradas ‘desfavoráveis’ pelo conceito dos eugenistas. Pode-se definir o pensamento eugenista geral sobre as mulheres como se elas representassem ‘úteros a serviço da nação'”, afirmam os autores.
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Problematizações das relações de gênero no primeiro Congresso Brasileiro de Eugenia: status da mulher, determinação de sexo biológico e controle reprodutivo, artigo de Anderson Ricardo Carlos, Fernanda Franzolin e Márcia Helena Alvim (v. 27, n.3, jul./set. 2020)