O Jardim Zoológico de Buenos Aires e a circulação transnacional de bichos no início do século XX

Dezembro/2022

Em 2016, o Jardim Zoológico de Buenos Aires (JZBA) deixou de existir. Durante anos, a empresa privada que administrava o zoológico foi acusada de maltratar os animais, e o clamor público obrigou as autoridades municipais a intervir. A licença da empresa foi revogada e o zoológico fechado, ganhando as manchetes em todo o mundo. Seria transformado em um ecoparque. O fechamento do JZBA agora serve de referência para grupos de direitos dos animais que exigem o fechamento de outros zoológicos.

Caricatura de Clemente Onelli (Caras y Caretas, n. 529, 1908, p. 56)

Um século antes, o Jardim Zoológico de Buenos Aires, inaugurado em 1888, tinha outra fama. Sob a direção de Clemente Onelli, de 1904 a 1924, foi uma importante atração pública e ganhou reputação internacional por suas inovações no abrigo e fornecimento de fauna latino-americana. Era uma instituição híbrida que combinava instrução pública, pesquisa zoológica e aclimatação de animais, sendo também símbolo de orgulho nacional. Apesar da localização geográfica aparentemente periférica, a instituição estava fortemente integrada na rede global de jardins zoológicos.

No artigo Um player global do Sul: o Jardín Zoológico de Buenos Aires e a rede transnacional de zoológicos no início do século XX (HCS-Manguinhos, v. 29, n. 3, jul/set 2022), Oliver Hochadel, pesquisador da Institución Milà i Fontanals de Investigación en Humanidades, do Consejo Superior de Investigaciones Científicas (Barcelona, Catalunha, Espanha), examina dois estudos de caso sobre as trocas dinâmicas entre o JZBA e outros atores das redes transnacionais de zoológicos: a empresa de Carl Hagenbeck e a importação e aclimatação das ovelhas karakul.

O criador de animais austríaco Josef Novacek com ovelhas Karakul (Caras y Caretas, n. 682, 1911, p. 63)

O artigo utiliza a perspectiva transnacional para lançar luz sobre as muitas trocas multidirecionais de animais e conhecimento entre o Jardín Zoológico de Buenos Aires e as metrópoles do Norte.

Folheto publicitário de 1910 (Archiv Carl Hagenbeck GmbH, Hamburgo)

Segundo Hochadel, ninguém exemplifica melhor o comércio global de animais exóticos do que Carl Hagenbeck, cuja empresa entregou animais para zoológicos na Europa, em Calcutá, Tóquio, Adelaide, Rio de Janeiro e Buenos Aires. 

Hagenbeck trouxe todo o seu império do entretenimento para Buenos Aires e construiu um enorme local chamado de exposição, onde promovia shows com animais.

No contexto do dossiê Cultura material da ciência ibero-americana, que aborda museus, jardins e gabinetes científicos, publicado nesta edição de HCS-Manguinhos, este artigo tenta reconstruir as conexões e trocas internacionais do JZBA por volta de 1910. 

No caso de jardins zoológicos, os “objetos” em circulação eram animais vivos. 

Leia na revista História, Ciências, Saúde -Manguinhos:

Um player global do Sul: o Jardín Zoológico de Buenos Aires e a rede transnacional de zoológicos no início do século XX , artigo de Oliver Hochadel (HCS-Manguinhos, v. 29, n. 3, jul/set 2022)