O doutor que virou marchinha de carnaval

Fevereiro/2014

Em 1928, o médico Serge Voronoff veio ao Brasil para divulgar nas Jornadas Médicas seus curiosos xenoimplantes glandulares. Para os idosos, a novidade representava esperanças de rejuvenescimento. Já entre jovens gerou zombarias e piadas, além de marchinhas de carnaval.

ilustra_voronoff

Capa de nova edição do livro ‘Etude sur la Vieillesse et la Rajeunissement par la Greffe’, de Serge Voronoff, lançado originalmente em 1926

“Seu Voronoff”

Lamartine Babo e João Rossi, 1929

Toda gente agora pode
Ser bem forte, ser um taco
Ser bem ágil como um bode
E ter alma de macaco
A velhice na cidade
Canta em coro a nova estrofe
Já se sente a mocidade
Que lhe trouxe o Voronoff
Seu Voronoff
Seu Voronoff
Numa grande operação
Faz da tripa coração
Operado foi na pança
Um velhote com chiquê
Ele vai virar criança
Das cartilhas do ABC
Um sujeito que operou-se
Logo após sentiu-se mal
Voronoff desculpou-se
Que houve troca de animal
Seu Voronoff
Seu Voronoff
Numa grande operação
Faz da tripa coração.

Ouça aqui

“Minha viola”

Noel Rosa, 1929


Eu tive um sogro cansado dos regabofe
Que procurou o Voronoff, doutô muito creditado
E andam dizendo que o enxerto foi de gato
Pois ele pula de quatro miando pelos telhado
Adonde eu moro tem o Bloco dos Filante
Que quase que a todo instante
Um cigarro vem filá
E os danado vem bancando inteligente
Diz que tão com dô dente
Que o cigarro faz passá.

Ouça aqui

Leia em História, Ciências, Saúde-Manguinhos:

Os curiosos xenoimplantes glandulares do doutor Voronoff  – artigo de Ethel Mizrahy Cuperschmid e Tarcisio Passos Ribeiro de Campos publicado em  (vol.14, no.3, jul/set. 2007)

E ainda em alusão ao Carnaval… leia também em HCS-Manguinhos:

O Carnaval, a peste e a ‘espanhola’ – artigo de Ricardo Augusto dos Santos (vol.13, no.1, jan./mar. 2006)

Os súditos de Momo na República branca: cronistas e carnaval na imprensa carioca – Resenha de Vera Lúcia Bogéa Borges para o livro de Eduardo Coutinho (vol.14 no.3, jul/set. 2007)