O curandeiro charlatão e o ‘Messias de Campos’

Outubro/2022

Professor Mozart em cena de cura, em filme de 1924

Há quase cem anos, um certo “Messias” promovia curas no Sudeste e no Sul do Brasil, gerando controvérsias na imprensa e em setores como o judiciário, a polícia, a cultura e a população em geral.

No artigo “O curandeiro charlatão e o messias de Campos: o caso do Professor Mozart (1924-1939)”, publicado na atual edição da revista História, Ciências, Saúde-Manguinhos (v. 29, n. 3, jul-set/2022), o pesquisador Hugo Leonardo Rocha Silva da Rosa, do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, apresenta um personagem polêmico e convida à leitura de uma trama.

“É fato conhecido que muita controvérsia houve entre médicos e os que curavam sem licença, os assim chamados curandeiros. Porém, pouca atenção é dada ao envolvimento mais amplo da sociedade brasileira no jogo de tensões que incluía escritores, dramaturgos, poetas, jornalistas, a polícia, juízes e a população em geral”, explica o autor, que defendeu tese de doutorado sobre o tema.

Hugo da Rosa explora tensões suscitadas pelas curas realizadas em público, que impressionavam os observadores e analisa os desdobramentos na sociedade sobre as relações entre cura e sugestão, religião, saúde pública e liberdade de culto e de ofício.

Mozart em companhia de sua mãe e de seu gato (esq.) e em prática (dir.). O Malho, 1924

Para estudar um caso que provocou controvérsias naquele período, o autor lança inicialmente a seguinte pergunta: “Como o Professor Mozart nos possibilita compreender as querelas da sociedade brasileira nas primeiras décadas do século XX no que diz respeito às curas praticadas por figuras à margem da medicina ou da ciência oficial?”

Para respondê-la, Da Rosa divide o estudo em três tópicos: “O Professor Mozart e sua arte de curar: da sugestão ao milagre”, em que examina memórias escritas por observadores e artigos publicados nos jornais para discutir os distintos entendimentos sobre as curas praticadas pelo personagem; “Modinhas e versos, filmes e teatros: Mozart no seio da cultura brasileira dos anos 1920”, no qual mostra os desdobramentos de sua presença em produtos artísticos que circularam naquele momento e que revelam os desacordos provocados pela passagem do personagem; e “No áspero território da saúde pública: sobre charlatanismo e liberdade”, onde discute as leis e comentários de juízes e advogados a respeito da questão, apresentando um imbróglio na esfera jurídica quanto à prática da cura.

O artigo traz fontes como peça de teatro, poesia, filme, comentários publicados na imprensa, livros de memórias, entre outros documentos da época, alguns com ilustrações incluídas reproduzidas no artigo, que representa uma forte contribuição para a historiografia das ciências psíquicas, do espiritismo e do ocultismo no Brasil.

Leia em HCS-Manguinhos:

O curandeiro charlatão e o messias de Campos: o caso do Professor Mozart (1924-1939), artigo de Hugo Leonardo Rocha Silva da Rosa (História, Ciências, Saúde-Manguinhos, v. 29, n. 3, jul-set/2022)