Agosto/2017
Vivian Mannheimer | Blog HCS-Manguinhos
De 2 a 3 de agosto de 2017, a Fiocruz foi a anfitriã de uma oficina que discutiu o conhecimento histórico e médico produzido no Novo Mundo, especificamente na América Latina, entre os séculos XVI e XX. O workshop internacional “Mundos da Natureza e Medicina: Novas Perspectivas Históricas”, organizado pela rede Laglobal de pesquisa, foi realizado alguns dias após o 25º Congresso Intenacional de História da Ciência e Tecnologia (ICHST) no Rio de Janeiro. Este foi o terceiro encontro da rede, e o próximo evento acontecerá em janeiro de 2018 em Quito, no Equador, no Congresso Flacso.
A Laglobal é uma rede de pesquisa internacional apoiada pelo Leverhulme Trust, coordenada pelo Instituto de Estudos Latino-Americanos (ILAS), quecongrega sete parceiros: University of St Andrews (Scotland); Conselho Superior de Investigação Científica (Espanha); El Colegio de México; Facultad Latinoamericana de Ciências Sociais (Equador); Fiocruz (Brasil); A Biblioteca John Carter Brown da Brown University e da Universidade do Texas (EUA).
O professor Mark Thurner, coordenador da rede de pesquisa, contou ao Blog de HCS-Manguinhos (inglês) sobre o projeto e seus objetivos.
Qual é o objetivo da rede de pesquisa Laglobal?
A idéia é inserir a América Latina na história global do conhecimento e da ciência e, assim, remodelar o campo. Historicamente – e este é particularmente o caso no Reino Unido, na Europa e nos EUA – nos departamentos acadêmicos de História e História da Ciência e da Medicina, a América Latina é tratada como uma periferia, se muito. Mas há muitas evidências que sugerem que a América Latina foi fundamental para o desenvolvimento do conhecimento global e de tipos específicos de ciência. Para resolver este equívoco, reunimos uma rede internacional de especialistas.
Quais são os principais tópicos abordados pela rede?
Temos quatro grupos de trabalho. O primeiro é focado em história e antropologia. O Novo Mundo está, na verdade, na vanguarda dos novos conhecimentos históricos e antropológicos, e produziu uma revolução global no pensamento sobre a história da humanidade.
Temos um segundo grupo trabalhando em práticas de coleta, exibição e explicação de coleções ao público. Esta é outra área em que o Novo Mundo é realmente um pioneiro, já que as pessoas que estudavam o Novo Mundo não podiam fazer a viagem. Assim, colecionar e exibir tornou-se uma tecnologia muito importante para a transferência e a troca de conhecimento.
O terceiro grupo, que é o grupo reunido no workshop na Fiocruz, concentra-se na história da medicina e da natureza. Novamente, a “natureza” e a “medicina” são conceitos e práticas que em muitos casos foram pioneiras nas Américas: novas curas, novos animais e plantas sendo descobertas, novas taxonomias emergindo para descrevê-las.
O quarto grupo está trabalhando em teoria e método. A disciplina da História da Ciência geralmente associa o desenvolvimento do método científico e da teoria às instituições da Europa ou da América do Norte. Mas essa visão já não é amplamente aceita pelos estudiosos. Em vez disso, vemos que maneiras de pensar e explicar o mundo surgiram em todo o lugar. Surgiram em mapas e relatórios escritos por missionários e exploradores na região, no comércio de escravos, no comércio de plantas e em universidades, bibliotecas e museus em toda a região. Muitos dos métodos básicos e teorias sobre o mundo muitas vezes surgiram não nos centros europeus, mas ao redor do mundo.
Como você vê o conhecimento que está sendo produzido atualmente na América Latina?
Existe um excelente trabalho na América Latina. Mas o trabalho aqui sempre foi conectado a desenvolvimentos globais. Embora haja tendência a pensar na produção de conhecimento na América Latina em termos nacionais, historicamente sempre foi transnacional ou global, com a comunicação entre pesquisadores em diferentes países. Particularmente agora, dando a digitalização do conhecimento, tudo está online. O que é necessário é colocar esse conhecimento em um formato compreensível que aborda a grande história de como o conhecimento global foi e é feito, e é isso que estamos fazendo na rede Laglobal. Estamos aproveitando todo esse conhecimento, criados em muitas partes do mundo, e reunindo-os em narrativas e exposições coerentes que abordam grandes questões na história do conhecimento. Tornaremos nosso trabalho disponível para todos na internet.
Leia em HCS-Manguinhos:
Evidências da circulação de conhecimento filosófico-natural sobre o Brasil em um manuscrito de 1763 de António Nunes Ribeiro Sanches, artigo de Gisele C. Conceição (vol.24, n.2, abr./jun. 2017)
A história das ciências e os saberes tradicionais, artigo de Francismary Alves da Silva (vol.24, no.2., abr 2017)
A emergência da medicina tradicional indígena no campo das políticas públicas, artigo de Luciane Ouriques Ferreira (vol.20, no.1, jan./mar. 2013)
A abordagem historiográfica dos séculos XIX e XX sobre a atuação de médicos e boticários jesuítas na América platina no século XVIII – artigo de Eliane Cristina Deckmann Fleck (vol.21 n.2 abr./jun. 2014)
Evidências de medicina mestiça em obra escrita por irmão jesuíta na América meridional do século XVIII – Artigo de Eliane Cristina Deckmann Fleck e Roberto Poletto (vol.19, no.4/Dez 2012)
Ñande Ru Marangatu: a judicialização da luta pela terra indígena e o papel do cientista, artigo de Thiago Leandro Vieira Cavalcante (vol.17, no.2, Jun 2010)
O mundo e o conhecimento sustentável indígena, artigo de André Fernando, (vol.14, supl.0, dez 2007)
Globalização e ambientalismo: etnicidades polifônicas na Amazônia, artigo de Luiza Garnelo e Sully Sampaio (vol.12, n.3, 2005)
Tabernero, Carlos, Jiménez-Lucena, Isabel and Molero-Mesa, Jorge.
Colonial scientific-medical documentary films and the legitimization of an ideal state in post-war Spain. Hist. cienc. saude-Manguinhos, Apr 2017, vol.24, no.2.