Agosto/2016
Nos primeiros anos da década de 1920, muitas restrições foram feitas à prática do meretrício em Belém do Pará. O recém-fundado Instituto de Profilaxia e Doenças Venéreas, administrado pelo médico Heraclídes de Souza Araújo, visava transformar as prostitutas em aliadas da política de higienização da cidade.
No artigo Da Belle Époque à cidade do vício: o combate à sífilis em Belém do Pará, 1921-1924, publicado na atual edição de HCS-Manguinhos (vol.23, no.2, abr./jun. 2016), o professor Márcio Couto Henrique e a mestranda Luiza Helena Miranda Amador, do Programa de Pós-graduação em História Social da Amazônia da Universidade Federal do Pará, discutem os vários embates que ocorreram entre médicos, polícia civil e meretrizes revelados em documentos do Instituto de Profilaxia e jornais da época, com destaque às atitudes das prostitutas contra a intervenção do Estado em seu ofício.
O regulamento interno do Instituto de Profilaxia das Doenças Venéreas, redigido por Souza Araújo, tinha como principal objetivo a fiscalização sanitária da prostituição. A “seção das meretrizes” foi organizada com apoio do desembargador Júlio Costa, chefe de polícia do Pará. Caberia à polícia civil recensear, fornecer carteiras de identificação e localizar todas as meretrizes numa única área da cidade. Elas eram obrigadas a se apresentar semanalmente no instituto, para ser examinadas. Caberia também à polícia intimar e fiscalizar as meretrizes interditadas pelo Instituto, de modo que não continuassem a exercer o meretrício
Segundo os autores, a documentação permite recuperar do anonimato centenas de mulheres que foram vítimas das atitudes autoritárias da polícia médica e que não aceitaram passivamente a intromissão dos representantes do Estado em suas vidas.
Leia em HCS-Manguinhos:
Da Belle Époque à cidade do vício: o combate à sífilis em Belém do Pará, 1921-1924, artigo de Márcio Couto Henrique e Luiza Helena Miranda Amador, vol.23, no.2, abr./jun. 2016