Suplemento de HCS-Manguinhos discute novos paradigmas da filantropia

Janeiro/2020

César Guerra Chevrand | COC/Fiocruz

Capa do volume 26, supl.1, dez. 2019. Clique para acessar o sumário.

O que há de novo no horizonte historiográfico sobre assistência? Esta é a pergunta que orienta o suplemento do volume 26 (dezembro) da revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos. Coordenada por Tânia Pimenta, da Casa de Oswaldo Cruz (COC/ Fiocruz), Christiane Maria Cruz de Souza, do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA), Maria Renilda Barreto, do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (Cefet-RJ) e Renato Franco, da Universidade Federal Fluminense (UFF), a nova edição do periódico científico traz dez artigos que renovam as abordagens sobre a relação assistência e estado.

Em sua carta de apresentação, os editores convidados do suplemento discutem os principais marcos e as novidades da produção historiográfica sobre assistência, suas principais instituições e as políticas de estado relacionadas. Ao recuperar a historicidade de experiências clássicas sobre o tema, com as Santas Casas de Misericórdia, também destacam os múltiplos sentidos de conceitos como “caridade” e “filantropia”. “Uma significativa mudança historiográfica é percebida nos estudos sobre assistência: a memória produzida por esses estabelecimentos não condiz, frequentemente, com o que se pode encontrar nos arquivos, porque a caridade, a filantropia ou mesmo a cidadania não são conceitos estáticos, mas o resultado de disputas que os limitam a repertórios de ação específicos”, afirmam.

Análise

Dez artigos compõem a seção do suplemento da HCS-Manguinhos. A emergência de um movimento americano de proteção da infância é o tema de María Soledad Rojas Novoai. Rogério Siqueira e Maria Renilda Barreto debatem os limites da assistência oitocentista em Juiz de Fora (MG). As mulheres da Federação das Sociedades de Assistência aos Lázaros e Defesa Contra a Lepra (1926-1947) são a pauta de Francieli Lunelli Santos e José Augusto Leandro. Márcia Regina Barros da Silva discute a história da assistência hospitalar em São Paulo. As reformas da assistência aos expostos na Europa e na América são objeto de análise de Renato Franco.

O personalismo das instituições assistenciais no Ceará oitocentista é o tema de Cláudia Freitas de Oliveira. Samuel Silva Rodrigues de Oliveira discute a Comissão Nacional de Bem-estar Social (1951-1954). “Helena Antipoff e a Sociedade Pestalozzi de Minas Gerais: filantropia e ciência em prol dos anormais” é o título do trabalho de Adriana Araújo Pereira Borges e Esther Augusta Nunes Barbosa. Claudia C. Azeredo Atallah escreve sobre a fundação da Santa Casa de Misericórdia de Campos dos Goytacazes (1786-1795). A Santa Casa de Misericórdia da vila da Cachoeira (BA) é tema do artigo de João Batista Cerqueira.

Imagens e Fontes

Na seção Imagem, a doutoranda do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da Fundação Getúlio Vargas (CPDOC/FGV) Mônica Cruz Caminha apresenta a Escola de Pesca Darcy Vargas, um dos departamentos da instituição filantrópica Abrigo do Cristo Redentor do Rio de Janeiro, e sua importância no contexto do Estado Novo (1937-1945). Com vistas à formação técnica e profissional de pescadores locais e de várias regiões litorâneas do país, a escola funcionava na ilha da Marambaia, no início da década de 1940.

Na seção Fontes, a pesquisadora bolsista da Casa de Oswaldo Cruz Daiane Silveira Rossi analisa as relações entre a população pobre e a administração pública durante a Primeira República brasileira a partir das fontes das intendências municipais, em especial as correspondências. “O Grace Memorial Hospital e a Missão Presbiteriana norte-americana no Brasil: fontes para a história da assistência à saúde, 1955-1971” é o título do outro artigo de seção, assinado pelos professores de História da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), Maria Elisa Lemos Nunes da Silva e Ricardo dos Santos Batista.

Livros & Redes

Três resenhas fazem parte da seção Livros & Redes desta edição da HCS-Manguinhos. Em “Euclides da Cunha por vários ângulos“, José Augusto Drummond (Universidade de Brasília) debate o livro The scramble for the Amazon and the lost paradise of Euclides da Cunha, de Susanna Hecht. “História da saúde no Brasil: uma breve história“, dos pesquisadores da Casa de Oswaldo Cruz Luiz Antonio Teixeira, Tânia Salgado Pimenta, e Gilberto Hochman, é o objeto da resenha de André Mota (Universidade de São Paulo). Sandro Dutra e Silva (Universidade Estadual de Goiás) analisa a obra de Arroz negro: as origens africanas do cultivo de arroz nas Américas, de Judith A. Carney.

Acesse o sumário da edição (vol.26, supl.1, dez. 2019)

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Ensinar a pescar
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