Natureza e comércio no norte do Brasil no século XVII

Maio/2022

Frutas brasileiras. Pintura de Albert Eckhout (1610-1666).

Do abacaxi ao caju, do gengibre à baunilha, cravo e canela, as mais diferentes espécies vegetais cresciam sem a interferência humana em “terras brasílicas”. Tamanha fartura natural surpreendia os colonizadores portugueses desde o século XVI.

Vislumbrando o potencial comercial de espécies vegetais e animais dos trópicos ainda pouco exploradas no século XVII, o português Duarte Ribeiro de Macedo voltou seus olhos às riquezas naturais do Brasil, especialmente àquelas encontradas no norte.

Primeira página do manuscrito de Duarte Ribeiro de Macedo, de 1633. Clique para acessar a fonte.

No seu manuscrito Discurso sobre os generos para o Comercio, que ha no Maranhão, e Pará (1633), ele apresenta 37 espécies de plantas e animais da “colônia brasílica” que poderiam ser valiosas para a economia portuguesa, como frutas tropicais e “drogas do sertão”.

Salvaguardado pelo Arquivo Nacional Torre do Tombo, em Lisboa, o Discurso compõe parte da coleção “Manuscritos do Brasil” e foi transcrito por Janaina Salvador Cardoso, doutoranda em História e Cultura Social do Programa de Pós-graduação em História da Unesp, com apoio da Capes. Ela é autora do artigo Natureza e comércio no norte do Brasil: o “Discurso sobre os gêneros para o comércio, que há no Maranhão e Pará” de Duarte Ribeiro de Macedo (1633), publicado na seção Fontes da atual edição da revista HCS-Manguinhos (v. 29, n.1, jan/mar 2022).

Nas 14 páginas do Discurso sobre os generos para o Comercio que ha no Maranhão, e Pará, Macedo descreve o cultivo de plantas como o arroz, o algodão e o tabaco, aborda os lucros a serem obtidos com a extração da canela e do gengibre, gêneros cujo plantio no Brasil era proibido na década de 1630 e relata o aproveitamento da carne e gordura das tartarugas encontradas na região.

Janaina Salvador Cardoso conta que Duarte de Macedo era atuante nas esferas política e diplomática de Portugal e redigiu seu Discurso num momento delicado de Portugal. Na primeira metade do século XVII, o reino português enfrentava dificuldades econômicas devido aos embates com a Holanda, que avançava sobre as possessões lusas no Oriente e no Ocidente, como foi o caso da ocupação holandesa na capitania de Pernambuco. Nesse período de grandes perdas, Macedo apresentou uma solução para as economias lusitanas: a união de esforços para a exploração da fauna e flora amazônicas, de onde seria possível extrair especiarias valiosas nas praças comerciais.

“Com a transcrição, almejamos contribuir com uma historiografia que, nos últimos anos, tem se voltado a analisar as potencialidades naturais existentes no norte da América portuguesa. Do mesmo modo, também intentamos apresentar o papel de Duarte Ribeiro de Macedo na produção e circulação de novos conhecimentos sobre a fauna e flora da região amazônica”, afirma a autora.

Leia na revista HCS-Manguinhos:

Natureza e comércio no norte do Brasil: o “Discurso sobre os gêneros para o comércio, que há no Maranhão e Pará” de Duarte Ribeiro de Macedo (1633), artigo de Janaina Salvador Cardoso (HCS-Manguinhos, v. 29, n.1, jan/mar 2022)

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