Maio/2022
Do abacaxi ao caju, do gengibre à baunilha, cravo e canela, as mais diferentes espécies vegetais cresciam sem a interferência humana em “terras brasílicas”. Tamanha fartura natural surpreendia os colonizadores portugueses desde o século XVI.
Vislumbrando o potencial comercial de espécies vegetais e animais dos trópicos ainda pouco exploradas no século XVII, o português Duarte Ribeiro de Macedo voltou seus olhos às riquezas naturais do Brasil, especialmente àquelas encontradas no norte.
No seu manuscrito Discurso sobre os generos para o Comercio, que ha no Maranhão, e Pará (1633), ele apresenta 37 espécies de plantas e animais da “colônia brasílica” que poderiam ser valiosas para a economia portuguesa, como frutas tropicais e “drogas do sertão”.
Salvaguardado pelo Arquivo Nacional Torre do Tombo, em Lisboa, o Discurso compõe parte da coleção “Manuscritos do Brasil” e foi transcrito por Janaina Salvador Cardoso, doutoranda em História e Cultura Social do Programa de Pós-graduação em História da Unesp, com apoio da Capes. Ela é autora do artigo Natureza e comércio no norte do Brasil: o “Discurso sobre os gêneros para o comércio, que há no Maranhão e Pará” de Duarte Ribeiro de Macedo (1633), publicado na seção Fontes da atual edição da revista HCS-Manguinhos (v. 29, n.1, jan/mar 2022).
Nas 14 páginas do Discurso sobre os generos para o Comercio que ha no Maranhão, e Pará, Macedo descreve o cultivo de plantas como o arroz, o algodão e o tabaco, aborda os lucros a serem obtidos com a extração da canela e do gengibre, gêneros cujo plantio no Brasil era proibido na década de 1630 e relata o aproveitamento da carne e gordura das tartarugas encontradas na região.
Janaina Salvador Cardoso conta que Duarte de Macedo era atuante nas esferas política e diplomática de Portugal e redigiu seu Discurso num momento delicado de Portugal. Na primeira metade do século XVII, o reino português enfrentava dificuldades econômicas devido aos embates com a Holanda, que avançava sobre as possessões lusas no Oriente e no Ocidente, como foi o caso da ocupação holandesa na capitania de Pernambuco. Nesse período de grandes perdas, Macedo apresentou uma solução para as economias lusitanas: a união de esforços para a exploração da fauna e flora amazônicas, de onde seria possível extrair especiarias valiosas nas praças comerciais.
“Com a transcrição, almejamos contribuir com uma historiografia que, nos últimos anos, tem se voltado a analisar as potencialidades naturais existentes no norte da América portuguesa. Do mesmo modo, também intentamos apresentar o papel de Duarte Ribeiro de Macedo na produção e circulação de novos conhecimentos sobre a fauna e flora da região amazônica”, afirma a autora.
Leia na revista HCS-Manguinhos:
Natureza e comércio no norte do Brasil: o “Discurso sobre os gêneros para o comércio, que há no Maranhão e Pará” de Duarte Ribeiro de Macedo (1633), artigo de Janaina Salvador Cardoso (HCS-Manguinhos, v. 29, n.1, jan/mar 2022)
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