Moacyr Scliar: vida e obra em multimídia

Dezembro/2013

Em fevereiro de 1917 … começa a agonia de Oswaldo Gonçalvez Cruz. Junto a ti, em constante vigília, os familiares, os amigos mais chegados. … É uma noite quente, uma noite de verão. No convento dos franciscanos de Petrópolis soam as nove badaladas. Na casa da rua Monte Caseros reina o silêncio, somente quebrado pela respiração estertorosa do doente.

De súbito, percebe-se um barulho que aos poucos vai aumentando: tambores, um alarido. Os familiares fecham precipitadamente as janelas; é inútil, os gritos ecoam agora sob a janela. … – Que barulho é esse? – perguntas, numa voz trêmula. – É o Carnaval – dizem – um cordão tocando o Zé Pereira … Ele os interrompe: – É uma manifestação E é mesmo… Os gritos, as vaias… Que no entanto ressoam cada vez mais longínquos. Já não vês, já não ouves… pouco a pouco vais entrando em coma. … Às nove da noite de 11 de fevereiro de 1917 morres.
Moacyr Scliar.  Fonte: www.moacyrscliar.com

Moacyr Scliar.
Fonte: www.moacyrscliar.com

Com estas palavras, Moacyr Scliar remata a história do sanitarista brasileiro que ele retratou ficcionalmente em Sonhos tropicais, em 1992, e quatro anos depois, a vera, num livrinho bem torneado, Oswaldo Cruz: entre micróbios e barricadas. Pois em 27 de fevereiro de 2011, quando os tamborins soavam os primeiros acordes do carnaval que o terá exaurido, leitor, quando estiver lendo esta página, expirou o querido escritor gaúcho, que era também médico sanitarista e que fez dessa vocação o fermento de preciosos escritos, de cunho ficcional ou não, sobre a história da medicina, da saúde e do corpo. A majestade do Xingu (1977), por exemplo, formidável recriação da vida de Noel Nutels, médico e indigenista, judeu brasileiro nascido na Ucrânia, não longe do torrão natal dos pais do escritor, José e Sara Scliar, judeus russos que emigraram para o Brasil em 1904. Os dois títulos mencionados formam, com Manual da paixão solitária (2008), os livros mais incensados de Moacyr Scliar, por lhe terem valido três Prêmios Jabuti. Igualmente valorizado nos verbetes biográficos e obituários é O centauro no jardim (1980), um dos cem melhores livros de temática judaica, segundo lista organizada pelo National Yiddish Book Center. Assim começa a Carta do Editor de História, Ciências, Saúde-Manguinhos da edição de março de 2011 (vol.18 no.1), assinada por Jaime Benchimol. Um pouco da saudade do escritor, parecerista de HCS-Manguinhos na área de literatura, é compensada com uma visita ao seu site oficial, em www.moacyrscliar.com, que dá um panorama amplo e multimídia da sua vida e obra. O site disponibiliza “book trailers” – narrações de trechos de obras -, adaptações para teatro, documentários e cinema, textos, homenagens, depoimentos e ainda uma compilação da produção acadêmica sobre Scliar e sua obra.

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Moacyr é filho de pai também ilustre – o pintor Carlos Scliar, que serviu à FEB na Itália em 1944 e 1945. Vale visitar este site para conhecer sua história e obra. Visite o site oficial de Moacyr Scliar