Janeiro/2024
Marina Lemle | Blog de HCS-Manguinhos
Em 2023, a revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos mudou sua forma de publicação: ao invés de lançar os tradicionais quatro números anuais, além de um ou dois suplementos temáticos, aderiu ao fluxo contínuo, publicando lotes de artigos ao longo do ano.
Mudamos rotinas, apanhamos um pouco, mas cá estamos, satisfeitos, entoando o dito popular: missão dada é missão cumprida! Todos os artigos programados para o volume 30 entraram no ar em 2023, incluindo o conteúdo de dois suplementos – um sobre Covid-19 na América Latina e o mais recente, sobre o patrimônio da Fiocruz, a respeito do qual ainda falaremos bastante.
“Gabinetes de curiosidades e de maravilhas”
A última leva de artigos do volume 30 traz a nota de pesquisa O Gabinete de Curiosidades da Universidade de Coimbra: uma proposta museológica e científica, de João Brigola, professor da Universidade de Évora, e Paulo Trincão, diretor do Museu de Ciência da Universidade de Coimbra.
Em 18 de maio de 2022 – Dia Internacional dos Museus -, o Museu da Ciência da Universidade de Coimbra inaugurou seu Gabinete de Curiosidades, no espaço setecentista do antigo Colégio dos Jesuítas. Origem dos museus modernos, os gabinetes de curiosidades surgiram por toda a Europa do período renascentista ao século XIX, e, segundo os autores, ilustram uma tendência cultural alimentada pelas elites e por instituições científicas. A iniciativa, entretanto, suscita alguma controvérsia.
Nesta nota de pesquisa, os autores abordam “os gabinetes de curiosidades e de maravilhas” na história da cultura europeia moderna dos séculos XV ao XVIII como etapa da construção do pensamento científico. Eles descrevem o processo de instalação cênica de milhares de objetos de coleções universitárias e contam como uma equipe multidisciplinar formada por museólogos, historiadores, restauradores, designers e luminotécnicos estabeleceu, durante dois anos, “uma proposta interpretativa que cruza rigor científico e fruição estética, reflexão crítica e divertimento”.
O Antropoceno e o papel das Ciências Humanas
No último lote de textos sobre temas diversos publicado no volume 30 de HCS-Manguinhos também está a análise Antropoceno, ciências humanas e historiografia, de Walter Francisco Figueiredo Lowande, professor do Departamento de História e do Programa de Pós-graduação em História Ibérica da Universidade Federal de Alfenas. O artigo mostra como as discussões sobre o Antropoceno têm se deslocado para o campo das ciências humanas e como elas têm lidado com as relações entre causas, efeitos e consequências diante das condições do novo regime planetário e as discussões sobre a “tecnosfera”.
Da lepra à hanseníase: um estudo de cartazes paulistas da segunda metade do século XX
Carla Lisboa Porto e Maria Cristina da C. Marques, da Faculdade de Saúde Pública da USP, assinam o artigo Representações sócio-históricas de uma doença: um estudo sobre cartazes de campanhas para o combate à hanseníase na segunda metade do século XX, no qual analisam cartazes das décadas de 1950, 1960, 1980 e 1990, buscando identificar os elementos textuais, visuais ou gráficos utilizados para elaborar um discurso sobre a doença e os doentes, suas transformações discursivas e permanências. As fontes estudadas fazem parte da coleção Cartazes de Campanhas de Saúde, cujos itens foram produzidos por diversas instituições ligadas à saúde pública e integram o acervo do Museu de Saúde Pública Emílio Ribas.
O fim do mundo na música brasileira dos anos 80
Amantes e estudiosos da música brasileira podem se surpreender com a publicação na revista HCS-Manguinhos do artigo Apocalipse pop: representações do fim do mundo em canções brasileiras da década de 1980. Com o uso da metodologia sócio-histórica, os autores Anderson Cleiton Fernandes Leite, analista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), e Emerson Ferreira Gomes, professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo, analisam a relação entre a produção cultural e as visões sobre a ciência e a tecnologia na década de 1980, a partir de um repertório de canções lançadas nesse período que apresentam temática apocalítica por conta do contexto de Guerra Fria e das crises ambientais.
As artes de curar na Argentina moderna
Por fim, entrou no ar a resenha Un mundo de grises, un mundo de experiencias, prácticas, creencias y discursos en Argentina durante dos siglos, de Astrid Dahhur, da Pontificia Universidad Católica da Argentina, sobre o livro Sanadores, parteras, curanderos y médicas: las artes de curar en la Argentina moderna, organizado por Diego Armus (Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica, 2022).
Boas leituras!
Acesse a revista HCS-Manguinhos, volume 30, 2023
Acesse também os suplementos 1 e 2 de 2023, sobre Covid-19 na América Latina e sobre o patrimônio da Fiocruz.