Mina de Morro Velho, o inferno de Dante

Março/2015

“Nova Lima, Minas Gerais. Em 1867, Richard Burton e sua esposa, Isabel, visitaram Morro Velho. Ela desceu dentro de uma caçamba até os recônditos escuros da mina. Nessas galerias, quase sem ar e com temperaturas altíssimas e muita umidade, os negros trabalhavam amarrados e dependurados por correntes, manejando alavancas. Lady Burton comparou Morro Velho ao inferno de Dante.

De meados do século XIX até os anos 1930 pouca coisa havia mudado em Morro Velho, apesar do fim da escravidão. Aliás, mesmo ao longo do século XX, a história da mina é marcada por constantes conflitos trabalhistas. “

Assim começa o artigo de Andréa Casa Nova Maia publicado em História, Ciências, Saúde-Manguinhos (vol.21, no.4, out./dez. 2014) sobre a mina de Morro Velho, que já foi a mais extensa do mundo e uma das mais antigas do Brasil. Depois de passar por vários donos, é hoje propriedade da AngloGold. Em 2009, época da desativação, a empresa devia indenizações pela insalubridade das condições de trabalho a 3.077 funcionários empregados nas décadas de 1970 e 1980. Muitos atingidos pela silicose faleceram sem o recebimento das indenizações.

Em “Outro inferno de Dante numa mina de ouro na época de Vargas: Nova Lima, Minas Gerais”, Andréa analisa as estratégias de controle existentes no trabalho na mina de Morro Velho, Minas Gerais, e as mudanças resultantes da implementação da legislação trabalhista durante o governo Vargas. O artigo discute as doenças causadas pelo trabalho na mina, silicose e arsenicismo, através de depoimentos de ex-mineiros e do livro de um autor anônimo que aborda as doenças e as relações de poder entre patrões e empregados, apontando os limites da legislação e das lutas operárias. O livro traz um depoimento contundente de como a empresa proprietária, inglesa, burlou, durante muito tempo, leis como a da taxa de insalubridade. Direito que outras mineradoras, não só de propriedade inglesa, costumavam e até hoje costumam desrespeitar pelo mundo.

Leia em HCS-Manguinhos:

Outro inferno de Dante numa mina de ouro na época de Vargas: Nova Lima, Minas Gerais, artigo de Andréa Casa Nova Maia (vol.21, no.4, out./dez. 2014)