Maio/2013
No início do século XX, o Rio de Janeiro era assolado por doenças como varíola, peste bubônica e febre amarela. O governo então aprovou uma lei que obrigava a vacinação de toda a população contra varíola.
Mas a ideia de abrir as portas para agentes “armados” de seringas não agradou ao povo, que, incitado por intelectuais e políticos da oposição, revoltou-se. Entre os dias 10 e 18 de novembro de 1904, cerca de três mil pessoas tombaram bondes, arrancaram trilhos, destruíram calçadas.
Apesar do episódio que ficou conhecido como a Revolta da Vacina, a população foi vacinada e a cidade imunizada contra varíola.
Mais de um século depois, a situação se inverteu: o povo foi à rua pedir vacina. Um grupo de médicos, enfermeiros, estudantes de ensino médio e universitários da área de saúde marchou no calçadão da Praia de Copacabana, no domingo, 19 de maio, reivindicando uma campanha de vacinação contra o papilomavírus humano (HPV), transmitido por via sexual. O HPV provoca verrugas genitais que podem evoluir para cânceres como o de colo de útero – o que mais mata mulheres depois do câncer de mama. As lesões podem surgir na vagina, no ânus, no pênis e na boca, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca).
De acordo com o chefe do Setor de Doenças Sexualmente Transmissíveis da Universidade Federal Fluminense (UFF), Mauro Romero Leal Passos, que organizou o ato, 4 mil mulheres morrem no país anualmente em decorrência das lesões provocadas pelo HPV. Entre os homens, cerca de mil têm o pênis amputado. Os especialistas defenderam a inclusão da vacina quadrivalente (contra os vírus 6,11,16 e 18) no sistema público de saúde, com o objetivo é vacinar homens e mulheres no início da vida sexual, para reduzir as chances de serem contaminados com os tipos mais graves do vírus.
Uma lei específica para vacinação não compulsória contra HPV já foi sancionada pelo governador Sérgio Cabral, mas não foi posta em prática. Ao contrário da violenta Revolta da Vacina, a Marcha da Vacina, promovida pelo Setor de Doenças Sexualmente Transmissíveis da UFF com apoio do Instituto de Microbiologia Paulo de Góes, da UFRJ, foi uma manifestação pacífica e educativa, com farta distribuição de materiais educativos aos cidadãos.
“A ideia é ser, de forma pacífica, um contraponto à Revolta da Vacina. No início do século XX, era o povo que não queria a vacinação. Agora a população pede a vacina, falta o governo oferecer”, afirma Mauro Romero Leal Passos.
Fontes: Agência Brasil e Setor de Doenças Sexualmente Transmissíveis do Departamento de Microbiologia e Parasitologia do Instituto Biomédico da UFF
Saiba mais:
Vacinas e campanhas: as imagens de uma história a ser contada, artigo de Ângela Pôrto e Carlos Fidelis Ponte, pesquisadores da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, em Hist. cienc. saude-Manguinhos vol.10 supl.2 Rio de Janeiro 2003.