Majestosas palmeiras

Outubro/2025

“Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.”

Palmeira Maximiliana regia, ilustração publicada em L'ILLUSTRATION HORTICOLE, v.2,1855

Palmeira Maximiliana regia, ilustração publicada em L’illustration Horticole, v.2, 1855.

O famoso verso que abre o poema “Canção do Exílio”, escrito por Gonçalves Dias em 1843, quando estudava na Universidade de Coimbra, Portugal, mostra o quanto as palmeiras são importantes no imaginário de um brasileiro saudoso da sua natureza. E o poeta tinha mesmo do que se orgulhar! No século XIX, as palmeiras eram representadas como majestades da natureza tropical por botânicos e horticultores europeus, dentro do seu imaginário de dominação colonial.

No artigo Majestosas palmeiras: natureza tropical e imaginário no contexto do imperialismo europeu do século XIX, publicado na revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos (v. 32, 2025), a antropóloga Alessandra El Far, professora associada do Departamento de Ciências Sociais a Universidade Federal de São Paulo, reúne e analisa textos e imagens extraídas de publicações sobre horticultura ornamental e botânica de países como Inglaterra, França, Bélgica e Portugal. A autora explica que os botânicos da época veiculavam a ideia dos trópicos como um lugar regido por sua natureza exuberante, no qual as palmeiras ganhavam centralidade, em contraponto à Europa, representada como modelo de civilização.

Por exemplo, na obra The vegetable kingdom (1866), o botânico inglês John Lindley, fundador da revista The Gardeners’ Chronicle, salientou, além da forma imponente e a grandeza das palmeiras, seu “imenso valor para a humanidade”, em função dos “numerosos objetos de importância econômica” que poderiam fornecer. Segundo a antropóloga, Lindley ressaltou que Alexander von Humboldt, em sua viagem pela América Latina, havia mencionado a capacidade dessas plantas de fornecer alimentos e bebidas como vinho, óleo, cera, farinha, sal e açúcar, enquanto Carl Friedrich Philipp von Martius havia apontado também sua importância na oferta de materiais para a fabricação de armas e habitações.

Alessandra El Far destaca que os jardins reais e botânicos europeus tiveram, desde o século XVI, papel importante na aclimatação, no cultivo, no estudo e na exibição das espécies vegetais trazidas das colônias, e que para proteger essas plantas do inverno europeu, eram construídas estufas envidraçadas (greenhouses) com o objetivo de reproduzir o clima das regiões tropicais. Havia um grande desejo por espécies consideradas ornamentais e exóticas. Nesse contexto, suntuosas palm houses passaram a ser construídas e ganharam a atenção da nobreza europeia.

Diversas palm houses foram construídas em países como Inglaterra, Alemanha, Áustria, Dinamarca, Escócia e França, servindo também como símbolos do domínio europeu sobre os trópicos. 

Já no Brasil, embora não fossem necessárias estufas para o seu acolhimento, as palmeiras também simbolizavam nobreza e poder. A pesquisadora lembra que D. João VI, então príncipe regente, recém-chegado ao país, plantou com suas próprias mãos, em 1809, no recém-inaugurado Jardim Botânico do Rio de Janeiro, uma Roystonea oleracea, originária das Antilhas, que passou a ser conhecida como palmeira-imperial. “Com o tempo, esse tipo de palmeira começou a ser vista também em praças públicas, nos jardins de instituições renomadas, bem como nas residências de famílias abastadas, exibindo, como se acreditava, ares de distinção e nobiliarquia e se tornaram símbolos privilegiados de riqueza e poder”, revela a pesquisadora.

Leia na íntegra na revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos:

Majestosas palmeiras: natureza tropical e imaginário no contexto do imperialismo europeu do século XIX, artigo de Alessandra El Far (História, Ciências, Saúde – Manguinhos, v. 32, 2025)