Luiz Otávio Ferreira fala sobre a feminização de enfermagem no Brasil no Encontro às Quintas

Novembro/2019

Blog de HCS-Manguinhos

“Enfermeiras: uma história social de mulheres na constituição de uma profissão sanitária” é o tema da palestra que Luiz Otávio Ferreira, pesquisador da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, fará no próximo Encontro às Quintas, dia 14/11, às 10h, no Centro de Documentação e História da Saúde (CDHS), na Fiocruz, no Rio. O evento é aberto e não requer inscrição prévia.

Ferreira apresentará os resultados do projeto de pesquisa desenvolvido no Departamento de Pesquisa em História das Ciências da Saúde (Depes) da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), sobre as características e desigualdades socioculturais existentes entre as mulheres que adotaram a enfermagem como profissão no Brasil no início do século 20.

Professor do Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e da Saúde (PPGHCS/COC)/Fiocruz e da Faculdade de Educação da Uerj, Ferreira deu entrevista ao Blog de HCS-Manguinhos sobre as pesquisas relacionadas à enfermagem no Brasil.

Luiz Otávio Ferreira

Quais são as contribuições e desafios do campo da história da enfermagem no Brasil?

O campo da história da enfermagem no Brasil tem peculiaridades. A história da enfermagem faz parte da formação profissional das (os) enfermeiras (os). A história da profissão tem forte importância simbólica e identitária. Por isso, grande parte da história da enfermagem produzida no Brasil, mas também na Europa e nos Estados Unidos, é produzida por enfermeiras (os).

No Brasil, existem núcleos de história da enfermagem implantados nos principias programas de pós-graduação em enfermagem. Os “clássicos” da história da enfermagem brasileira foram dois estudos sociológicos produzidos na USP nos 1960 e 1970. Tratam da constituição da profissão da enfermagem no Estado de São Paulo. No Rio de Janeiro, a historiografia da enfermagem é inaugurada na década de 1990 com uma tese sobre a formação e a atuação do grupo de enfermeiras atuantes na campanha nacional de controle da tuberculose.

Os historiadores e cientistas sociais também produzem estudos relevantes sobre a trajetória da profissão de enfermagem no Brasil. A ênfase desses estudos recai sobre as experiências de cooperação técnica entre as autoridades médicas brasileiras e a Fundação Rockefeller.

Como foi a feminização da enfermagem no Brasil, em meados do século 20?

A feminização de enfermagem no Brasil foi a principal consequência de um longo processo de elevação do nível sociocultural dos praticantes das atividades relacionadas aos cuidados e à assistência aos doentes. Na sociedade escravista brasileira, no final do século XIX, a enfermagem era tipo de serviço manual exercido por homens e mulheres em ambiente doméstico ou hospitalar. Não se exigia dos praticantes da enfermagem nenhum tipo treinamento adquirido em cursos ou escolas.

O primeiro curso de formação profissional foi a Escola Profissional de Enfermeiros e Enfermeiras (1890) vinculada ao Hospício Nacional localizado Rio de Janeiro. Na década de 1920, tem início o processo de criação de escolas de enfermagem de nível superior a partir do modelo proposto pela Missão de Cooperação Técnica para o desenvolvimento da Enfermagem no Brasil constituído por um grupo de enfermeiras norte-americanas que atuaram com base em acordo firmado entre o Departamento Nacional de Saúde Pública (governo federal) e a Fundação Rockefeller.

Os cursos de enfermagem criados inicialmente no Rio de Janeiro e em São Paulo já davam preferência às mulheres escolarizadas. O componente de gênero da enfermagem é institucionalizado nas escolas nível superior de enfermagem que são implantadas em todas região do país entre 1920 e 1950.

Como pretende divulgar e publicar os resultados de suas pesquisas?

Os resultados de minhas pesquisas estão sendo divulgados em eventos acadêmicos (congressos, seminários, palestras, aulas) e publicados na forma de artigos em periódicos nacionais em internacionais. Até o momento, publicamos quatro artigos científicos que tratam, basicamente, das características raciais e das desigualdades socioculturais observadas entre as mulheres que se profissionalizaram como enfermeiras no Brasil. São estudos que utilizam como principal fonte o banco de dados que armazena informações socioculturais, raciais, escolares e de saúde de aproximadamente 2000 estudantes de enfermagem diplomadas entre 1920 e 1960.

Leia no Blog de HCS-Manguinhos:

Com projeto ‘Enfermagem e raça’, Luiz Otávio Ferreira é contemplado em concurso da Fundação Carlos Chagas/Fundação Ford
Pesquisador da Casa de Oswaldo Cruz estudará mecanismos de inclusão/exclusão de três escolas de enfermagem de 1920 a 1960

Enfermagem dava mobilidade social a mulheres negras em meados do século XX
Projeto coordenado por Luiz Otávio Ferreira estudou 934 prontuários de três escolas num período de 40 anos
 

Leia em HCS-Manguinhos:

A higienização das parteiras curiosas: o Serviço Especial de Saúde Pública e a assistência materno-infantil (1940-1960), artigo de Luiz Otávio Ferreira e Tânia Maria de Almeida Silva (vol.18  supl.1 Rio de Janeiro dez. 2011)

Artigos sobre enfermagem em HCS-Manguinhos:

Campos, Paulo Fernando de Souza e Rosa Carrijo, Alessandra, Ilustre inominada: Lydia das Dôres Matta e enfermagem brasileira pós-1930, v. 26, n.1, jan./mar. 2019

Campos, Paulo Fernando de Souza. Memorial de Maria de Lourdes Almeida: história e enfermagem no Brasil pós-1930. Jun 2013, vol.20, no.2

Padilha, Maria Itayra et al. Tendências recentes da produção em história da enfermagem no Brasil. Jun 2013, vol.20, no.2

Ayres, Lílian Fernandes Arial et al. As estratégias de luta simbólica para a formação da enfermeira visitadora no início do século XX. Set 2012, vol.19, no.3

Padilha, Maria Itayra, Nelson, Sioban and Borenstein, Miriam Susskind As biografias como um dos caminhos na construção da identidade do profissional da enfermagem. Dez 2011, vol.18, suppl.1

Silva, Tânia Maria de Almeida and Ferreira, Luiz Otávio A higienização das parteiras curiosas: o Serviço Especial de Saúde Pública e a assistência materno-infantil (1940-1960). Dez 2011, vol.18, suppl.1

Faria, Lina and Santos, Luiz Antonio de Castro As profissões de saúde: uma análise crítica do cuidar.  Dez 2011, vol.18, suppl.1

Santos, Luiz A. de Castro. A duras penas: estratégias, conquistas e desafios da enfermagem em escala mundial. Mar 2008, vol.15

Cytrynowicz, Roney. A serviço da pátria: a mobilização das enfermeiras no Brasil durante a Segunda Guerra Mundial. Jun 2000, vol.7, no.1

Sanna, Maria Cristina. Clarice Della Torre Ferrarini: o depoimento de uma pioneira da administração em enfermagem no Brasil. Dez 2003, vol.10, no.3

Moreira, Martha Cristina Nunes. A Fundação Rockefeller e a construção da identidade profissional de enfermagem no Brasil na Primeira República. Fev 1999, vol.5, no.3

Vessuri, Hebe M. C. Enfermería de salud pública, modernización y cooperación internacional: El proyecto de la Escuela Nacional de Enfermeras de Venezuela, 1936-1950. Dez 2001, vol.8, no.3

Como citar este post:

Luiz Otávio Ferreira fala sobre a feminização de enfermagem no Brasil no Encontro às Quintas. Publicado em 13 de novembro de 2019. Disponível em http://www.revistahcsm.coc.fiocruz.br/luiz-otavio-ferreira-fala-sobre-a-feminizacao-de-enfermagem-no-brasil-no-encontro-as-quintas