Maio/2019
Leticia Masako Takahashi. Foto: Arquivo pessoal
Aprovada no doutorado em química na Universidade Federal do Triângulo Mineiro em 2019, Leticia Masako Takahashi, 26 anos, pretendia continuar sua pesquisa de mestrado, buscando moléculas com potencial de levar a novos medicamentos contra a leishmaniose.
A doença, transmitida por mosquito, cresceu quase 53% nos últimos 26 anos no Brasil e que pode ser fatal.
Diante da falta da bolsa de estudos de R$ 2.200, Leticia teve que trancar o doutorado, para o qual foi aprovada em segundo lugar. Sua história viralizou no Facebook. (Leia matéria no UOL)
A pedido do Blog de HCS-Manguinhos, o historiador Jaime L. Benchimol, pesquisador da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, comentou:
“A leishmaniose é a única doença negligenciada em crescimento. É na verdade um complexo de doenças que vem se expandindo tanto nas zonas interioranas como na periferia das cidades. A leishmaniose muco-cutânea pode causar deformações horríveis , e a visceral, tão grave, é, como disse um sanitarista brasileiro, uma doença de cães e de quem leva vida de cão.
As leishmanioses são um grande desafio à saúde pública e às ciências biomédicas, não obstante tenham sido um campo em que os pesquisadores e sanitaristas do Brasil ganharam grande projeção internacional em virtude de brilhantes trabalhos e de ousadas ações empreendidos desde o começo do século XX.
É uma medida de incrível estupidez, de inaceitável incompetência e mediocridade inviabilizar tais trabalhos, atentar contra a tradição que até agora só deu orgulho aos brasileiros, em que sobressaem nomes como Gaspar Vianna, Evandro Chagas, Leônidas e Maria Deane, Oswaldo Paulo Foratinni, Ralph Lainson e muitos outros.
Como historiador que se dedica ao estudo destas doenças, um historiador formado numa instituição federal de ensino que também é golpeada pela incompetência e mediocridade, solidarizo-me com Leticia Masako Takahashi e peço a ela: não desanime.”
Em 6 de junho de 2019, Jaime Benchimol fará palestra na Universidade Federal do Ceará (convite abaixo).
Leia no Blog de HCS-Manguinhos:
Leishmanioses: circulação de saberes e assimetrias entre ‘centros’ e ‘periferias’ científicas no início do século XX
Em artigo, Denis Guedes Jogas Jr mostra que pesquisadores sul-americanos não contaram com o mesmo acesso aos principais periódicos científicos da Europa que seus colegas europeus
