Infértil cerrado?

Agosto/2019

Panorama de cerrado brasileiro. Foto: Jonathan Wilkins/Wikipedia

Desde a década de 1970, quando o Estado brasileiro estabeleceu que a ocupação agrícola do cerrado seria prioridade, evidenciam-se contradições: por um lado, um otimismo pela grande produção agrícola na região; por outro, a crítica pela degradação ambiental do agronegócio industrial.

O bioma cerrado tornou-se objeto de interesse por parte das diferentes áreas da ciência principalmente durante a primeira metade do século XX, com o crescimento da ideia de aproveitamento econômico da área. Acreditava-se, porém, que os solos eram inférteis, sobretudo em função da escassez de recursos hídricos.

Entre a publicação do estudo do botânico dinamarquês Eugen Warming em 1892 – fundamentado na ideia de baixa disponibilidade de água na região – e as pesquisas de botânicos da Universidade de São Paulo (USP) realizadas em 1942 – com resultados mais otimistas em relação ao tema –, muitos outros estudos buscaram interpretar os cerrados brasileiros sob diversos pontos de vista.

No artigo A face infértil do Brasil: ciência, recursos hídricos e o debate sobre (in)fertilidade dos solos do cerrado brasileiro, 1892-1942, Claiton Márcio da Silva, professor do Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal da Fronteira Sul, demonstra como os projetos científicos eram diversos, com diferentes interesses institucionais e sem vinculação direta entre os pesquisadores, criando uma quantidade importante de conhecimentos que não dialogavam e que apontavam para direções distintas: intensificação da pecuária, silvicultura ou extrativismo, por exemplo.

“Sobretudo após a década de 1970, o bioma é objeto de crescente interesse por parte de pesquisadores (historiadores, botânicos, agrônomos, cientistas sociais etc.), governantes, instituições de proteção da natureza, empreendimentos privados e, como não poderia deixar de ser mencionado, das próprias populações que vivem nesse espaço, buscando, cada um a sua maneira, organizar um conjunto de ações e políticas para preservar o ambiente ou expandir a fronteira agropastoril. Em síntese, após a inauguração de Brasília, o cerrado tornou-se parte da agenda nacional, seja ela de desenvolvimento ou de preservação”, afirma o autor.

Leia em HCS-Manguinhos:

A face infértil do Brasil: ciência, recursos hídricos e o debate sobre (in)fertilidade dos solos do cerrado brasileiro, 1892-1942, artigo de Claiton Márcio da Silva (v.26, n.2, abr./jun. 2019)