Junho/2015
Hérika Dias | Agência USP de Notícias Até maio, somente a Biblioteca Digital da USP contabilizava mais de 53 mil pesquisas entre teses, dissertações e livre docência. Nesse grande volume de produção científica somente da USP, fora outros centros de pesquisa do Brasil, quais os critérios utilizados pelas instituições jornalísticas para decidir as informações sobre ciências que serão ou não divulgadas à população? A escolha é influenciada por vários fatores, como o impacto (número de pessoas que possam se envolver com o assunto) e o “furo”, termo jornalístico para se referir à divulgação da informação antes da concorrência. Esses apontamentos fazem parte da dissertação de mestrado Os bastidores do jornalismo científico: Critérios de noticiabilidade que determinam a circulação da informação à sociedade apresentada à Faculdade de Saúde Pública (FSP) pelo jornalista Lucas Pondaco Bonanno, sob orientação da professora Maria da Penha Vasconcellos. Para a realização do estudo, o pesquisador entrevistou sete jornalistas que escrevem sobre ciências nos jornais Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo, e nas revistas Superinteressante e Pesquisa Fapesp. “A escolha dos dois primeiros veículos de comunicação foi por serem os de maior circulação no Brasil, já a revista Superinteressante é a maior de jornalismo científico e a Pesquisa Fapesp possui um espaço maior para divulgação científica e um grande público de especialistas e pesquisadores”, informa Bonanno.
Categorias
No levantamento dos critérios, que levam os jornalistas a escolherem as notícias sobre ciências a serem divulgadas, o pesquisador os enquadrou em três categorias: a primeira relacionada à origem do fato, ou seja, o valor que cada informação tem por si só para virar notícia, a segunda alinhada ao tratamento e à visão dos fatos.
Entre os critérios relacionados à origem do fato, o mais lembrado pelos jornalistas foi o Impacto, seguido pela Novidade e pela Curiosidade. Outros valores também mencionados para a escolha das notícias sobre ciências foram: Polêmica, assuntos relacionados ao Governo, Tragédia, Proximidade do leitor com a informação, Surpresa e Conflitos.
“No geral, os jornalistas costumam somar esses valores para ver qual fato tem mais peso para virar notícia”, comenta o autor da pesquisa. “Um fato que só trouxer polêmica terá menos peso que aquele que trouxer polêmica, for curioso e impactar a vida das pessoas”, exemplifica.
A influência dos colegas de redação e dos diretores dos veículos também é um dos critérios. “Problemas pessoais podem se tornar sugestões de pauta, por exemplo, caso algum familiar do jornalista estiver com alguma doença, o problema poderá ser tema da notícia. A audiência de temas que tiveram grande repercussão em outras reportagens também podem virar assunto nos veículos”, segundo o pesquisador.
Interesse das fontes e dos anunciantes (lobbying) são outros critérios de influência para a publicação de notícias de ciências. No primeiro caso, a atuação de assessorias de imprensa, sobretudo da área da saúde, trabalham para que sejam divulgados na mídia os assuntos de interesses das empresas que as contratam. Alguns pesquisadores também só aceitam dar entrevista sobre assuntos que os interessam.
Anunciantes
Segundo Bonanno, no caso do interesse dos anunciantes, alguns setores privados, como o farmacêutico e o da agricultura, sempre convidam jornalistas que cobrem ciências para eventos no exterior ou para treinamentos. Também não é raro que esses setores invistam em anúncios nos jornais e revistas, mantendo assim um bom relacionamento com seus proprietários.
“Em todos os veículos analisados, as influências diretas ou indiretas por parte dos autores das matérias, dos anunciantes, do governo e das instituições privadas, das fontes, dos proprietários ou da concorrência parecem competir, durante o processo de escolha das notícias sobre ciências, com aquele que é o objetivo primordial do jornalismo: o interesse público”, avalia o autor da pesquisa.
Além dos jornalistas, Bonanno também entrevistou os pesquisadores Elizabeth Saad Corrêa, da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, e Carlos Vogt, da Unicamp, sobre as tendências do jornalismo científico.
Fonte: Agência USP de Notícias
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