Julho/2020
A difícil relação entre a visão ocidental dominante de adoecimento, cura e saúde e as especificidades do tratamento de povos indígenas – no caso, dos maxakali – é o foco de uma análise publicada na primeira edição de 2020 da revista HCS-Manguinhos.
No artigo Hitupmã’ax: educação intercultural e atendimento diferenciado à saúde do povo maxakali, as autoras analisam a produção do livro Hitupmã´ax – Curar, de 2008, de autoria maxakali, no contexto histórico de constituição de políticas de saúde pública no Brasil, numa perspectiva intercultural das epistemologias não ocidentais. Segundo Gabriela Oliveira Gomes Cordeiro, Cynthia de Cássia Santos Barra e Francismary Alves da Silva, respectivamente aluna e professoras da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), o livro interroga as práticas de atenção à saúde indígena por três vias de uma só vez: a cultural, a epistemológica e a política.
As autoras contam que a motivação que reuniu esforços para a publicação do livro, em 2008, se deu a partir da angústia de um povo que passou por várias guerras, conflitos com o Estado e a sociedade nacional, mas ainda continua vivo e resistente. “A escrita representa um artefato que dá voz aos povos tradicionais. Dessa maneira, talvez essa obra tenha se originado por meio de um sonho, de dar chances ao mundo exterior de compreender de que forma lidar com os maxakali”, afirmam, acrescentando que foi constatada a importância do livro para uma ampla compreensão da efetivação de políticas públicas voltadas à promoção da história, dos saberes, da cultura, da saúde e da resistência maxakali.
Depois de lançada a publicação, houve uma resposta: o lançamento de uma cartilha de saúde indígena da Funasa que, segundo as autoras, embora não tenha atendido à proposta de apropriação da complexidade presente no livro, representa uma devolutiva aos seus propósitos. Para elas, ainda há um longo caminho a ser seguido no sentido de possibilitar de fato um diálogo intercultural no atendimento em saúde dos povos tradicionais.
Leia em HCS-Manguinhos:
Hitupmã’ax: educação intercultural e atendimento diferenciado à saúde do povo maxakali, artigo de Gabriela Oliveira Gomes Cordeiro, Cynthia de Cássia Santos Barra e Francismary Alves da Silva (v .27, n. 1, jan./mar. 2020)