Historiadores nas fronteiras da prática médica

Novembro/2022

Editor-científico de HCS-Manguinhos e pesquisador da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, Marcos Cueto mergulhou nas “zonas cinzentas” que envolvem a medicina, os curandeiros e a história na América Latina, tema do livro editado por Diego Armus e Pablo F. Gómez e lançado em 2021 pela University of Pittsburgh Press. 

Nos últimos anos, historiadores têm se interessado pelas ideias e práticas da medicina informal, também chamada de medicina popular. Em resenha publicada na atual edição da revista HCS-Manguinhos, Cueto apresenta a obra The gray zones of medicine, healers and history in Latin America, que reúne ensaios sobre vários personagens na Argentina, Caribe, Colômbia, Guatemala, México, Peru, República Dominicana e Brasil, abrangendo desde o século XVII até hoje. “Os editores do livro e os autores dos capítulos são ilustres historiadores latino e norte-americanos e já produziram trabalhos importantes nesta área”, afirma Cueto.

Os estudos mostram que não havia uma única medicina popular, indígena ou afro-americana, nem havia um único tipo de praticante, mas uma variedade, e que eventualmente tinham um papel importante na sociedade fora da medicina. Do ponto de vista metodológico, estes estudos consolidaram novas formas de pesquisa, como a história oral e a busca de informações em notícias e arquivos, registrando visões não oficiais sobre saúde e epidemias, para além das fontes primárias mais convencionais das instituições médicas oficiais. 

“Todos os personagens que aparecem nos capítulos são figuras fascinantes e é importante destacar a participação das mulheres. Muitos deles eram itinerantes, preocupavam-se mais com a legitimidade popular de suas intervenções do que com a aprovação do poder, desempenhavam um papel fundamental na resistência à escravidão, à exploração e à discriminação e geralmente mantinham uma estreita relação com a religião. Segundo os editores, os personagens estudados desafiavam o controle e a perseguição das autoridades políticas e eclesiásticas que ora os toleravam, ora não hesitavam em condená-los moralmente e criminalizá-los. Como resultado, o conhecimento sobre o corpo humano e a doença na sociedade era ambíguo, escorregadio, incoerente e até mesmo contraditório”, revela Cueto na resenha.

Leia na revista HCS-Manguinhos:

Los historiadores en las fronteras de la práctica médica, resenha de Marcos Cueto do livro The gray zones of medicine, healers and history in Latin America, editado por Diego Armus e Pablo F. Gómez (História, Ciências, Saúde – Manguinhos, v. 29, n. 3, jul-set/2022)