Agosto/2024
Germana Barata *
As revistas científicas têm sido desafiadas a ampliar a comunicação de seus resultados para além dos especialistas. A revista História, Ciência, Saúde de Manguinhos fez movimentos pioneiros nesta direção em sua entrada nas redes sociais e nos blogs em 2013. Esta ainda não é a realidade de muitas revistas científicas, menos ainda das humanidades, então os esforços de diálogo com outros públicos devem ser celebrados.
A HCSM também tem acompanhado as mudanças na comunicação científica, sobretudo pós-pandemia. Adotou a publicação de artigos em fluxo contínuo, para acelerar o acesso ao conhecimento, e aposta nas publicações bilíngues, o que garante ampliação de leitores. A revista também aborda questões socialmente relevantes, como o número especial “Covid-19 na América Latina: conflitos, resistências e desigualdades”, publicado em 2023, postagens sobre a epidemia da gripe espanhola em 1918 no Rio de Janeiro, que ganharam interesse na pandemia, e, mais recentemente, artigos sobre os 50 anos do Plano Nacional de Imunizações no Brasil.
Contar com jornalistas na equipe e atuar no Facebook, X (antigo-Twitter) e em blogs trilíngues mostra seu empenho em atingir públicos distintos ativamente. Mesmo que o esforço não “fure bolhas”, ele ultrapassa fronteiras nacionais, dialoga com outras áreas do conhecimento, muda o fluxo de informação científica e se torna mais acessível e aberto ao diálogo.
Outro passo interessante foi ensaiado com a publicação de um comunicado de imprensa para a Agência Bori, especializada em divulgar novos estudos científicos para mais de 3 mil jornalistas brasileiros. O artigo A ditadura dos agrotóxicos: o Programa Nacional de Defensivos Agrícolas e as mudanças na produção e no consumo de pesticidas no Brasil, 1975-1985, de 2022, mostra a relevância da revista para o debate público e que a história não fala apenas do passado, mas ressignifica o presente para planejarmos o futuro. Agências como essa são importantes para fazer a curadoria de estudos para jornalistas de todos o país, portanto uma forma de atingir públicos ainda mais diversos. Que mais artigos da HCSM possam interessar à mídia nacional.
A qualidade dos artigos publicados, o acesso aberto diamante, sem cobrança de taxas de publicação (APCs), e o cuidado editorial fazem da HCSM um modelo de como é possível fazer ciência de qualidade, acessível e voltada para o interesse público. Que venham novas décadas para celebrar a história, a ciência e a saúde.
Referências
Benchimol, J. L., Cerqueira, R. C., & Papi, C.. (2014). Desafios aos editores da área de humanidades no periodismo científico e nas redes sociais: reflexões e experiências. Educação E Pesquisa, 40(2), 347–364. https://doi.org/10.1590/S1517-97022014061668
Cerqueira RC, Cueto M. HISTÓRIA, CIÊNCIAS, SAÚDE – MANGUINHOS IN 2023: A YEAR OF CHANGE. Hist cienc saude-Manguinhos [Internet]. 2024;31:e2024035. Available from: https://doi.org/10.1590/S0104-59702024000100035en
*Germana Barata é doutora em história social, jornalista de ciência e pesquisadora do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Desde 2013 estuda revistas científicas e suas relações com a divulgação da ciência. Email: germana@unicamp.br
Assista online:
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