Outubro/2021
O processo de fermentação é antigo conhecido da humanidade. Há mais de 3.700 anos, o Código de Hamurabi já descrevia a produção da cerveja na Babilônia e as leis sobre o seu comércio e consumo. Vinho, vinagre, coalhada e queijo também têm registros milenares, inclusive de Aristóteles (384 – 322 a.C.).
Dos processos hoje reconhecidos como enzimáticos, a fermentação foi a que teve maior difusão na história da sociedade humana. Mas essa história está contada nos livros de biologia?
A discussão é levantada no artigo A construção histórica do conceito de enzima e sua abordagem em livros didáticos de biologia, publicado na atual edição da revista HCS-Manguinhos (vol. 28, n. 3, jul-set/2021). Os autores Paulo Newton Tonolli, pesquisador do Centro de Estudos do Genoma Humano e Células-tronco do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP), Fernando Faria Franco e Antônio Fernando Gouvêa Silva, professores do Centro de Ciências Humanas e Biológicas da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), investigaram como o conceito de enzimas é apresentado em nove livros didáticos lançados de 1967 a 2007 e observaram limites conceituais decorrentes da ausência ou deficiência na contextualização histórica dos processos de fermentação no material didático.
Considerando que Plano Curricular Nacional tem como diretriz a inserção de conteúdos referentes à história e filosofia da ciência no ensino de biologia, os autores acharam necessário verificar se existe alguma abordagem histórica-filosófica de conteúdos relacionados à bioquímica e à biologia molecular em livros didáticos do Ensino Médio. Eles observaram, de forma geral, uma falta de interconexão nos assuntos de bioquímica, sendo as enzimas usualmente apresentadas apenas pelo modelo “chave-fechadura”, que hoje não seria representativo da complexidade do fenômeno.
“A história do conceito de enzima pode ser confundida com a própria história da bioquímica. Neste trabalho, corrobora-se que a ausência de uma contextualização histórica efetiva pode contribuir para a manutenção de limites conceituais nos livros didáticos”, enfatizam. Para eles, esse cenário – que não se limitaria ao conteúdo de enzimas e da área de bioquímica – poderia ser amenizado através da reformulação dos cursos de formação de professores, que consideram descontextualizada historicamente, fragmentada e acrítica em relação aos conteúdos dos livros didáticos.
“A não fragmentação dos conteúdos pode ser mais facilmente realizada por uma contextualização histórica dos conteúdos, desfazendo a ideia de que eles são herméticos e desconectados entre si”, defendem os autores.
Leia na revista HCS-Manguinhos:
A construção histórica do conceito de enzima e sua abordagem em livros didáticos de biologia, artigo de Paulo Newton Tonolli, Fernando Faria Franco e Antônio Fernando Gouvêa Silva (HCS-Manguinhos, vol. 28, n. 3, jul-set/2021)