HCS-Manguinhos debate legados e responsabilidades de museus portugueses

Dezembro/2025

Vivian Mannheimer / Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz 

Na véspera das comemorações dos 50 anos do 25 de abril de 1974, a revolução que instaurou a democracia em Portugal e marcou o início do processo de descolonização em África, o presidente do país, Marcelo Rebelo de Sousa, defendeu a necessidade de reparações relacionadas ao colonialismo. No ano anterior, em 2023, durante a sessão de boas-vindas ao presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, o mandatário português já havia afirmado que seu país devia um pedido de desculpas e deveria assumir plenamente a responsabilidade pela exploração e pela escravatura no período colonial.

Capa do suplemento “Coleções coloniais e pós-coloniais em Portugal: reconstituir trajetórias e repensar narrativas” (v. 32, 2025), da revista História, Ciências, Saúde - Manguinhos

Capa do suplemento “Coleções coloniais e pós-coloniais em Portugal: reconstituir trajetórias e repensar narrativas”, da revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos (v. 32, 2025)

O suplemento “Coleções coloniais e pós-coloniais em Portugal: reconstituir trajetórias e repensar narrativas”, da revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos, reúne artigos que analisam criticamente os legados coloniais presentes em museus e instituições científicas portuguesas, em um contexto de renovado debate público sobre restituição, reparações e responsabilidade histórica. Os artigos resultam da colaboração interinstitucional e da dedicação de investigadores comprometidos com a revisão das histórias dominantes, reforçando a responsabilidade social dos museus e das instituições científicas diante de seu patrimônio colonial.

Os textos refletem o trabalho que está sendo desenvolvido sobre o legado de várias instituições portuguesas, como o Museu Nacional de História Natural e da Ciência, o Museu Municipal Santos Rocha, o Museu Nacional de Arqueologia e o Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto, evidenciando como as suas coleções foram, em muitos casos, moldadas por dinâmicas de ocupação, comércio e dominação colonial.

O suplemento destaca ainda estudos sobre coleções recolhidas em territórios sob domínio português, especialmente por meio da atividade missionária, mostrando como a análise de seus percursos revela as origens, os contextos de aquisição e a permanência de discursos eurocêntricos.

Na Europa, muito tem sido publicado nos últimos anos sobre as origens coloniais e os legados dos antigos museus etnológicos e imperiais. Nesse contexto, curadores, artistas e ativistas africanos vêm atuando em instituições europeias, com o desafio de repensar as chamadas “coleções etnográficas”, inclusive as provenientes de seus próprios países de origem.

Desse modo, o suplemento dialoga com esses debates internacionais sobre a descolonização dos museus e com reflexões sobre arte africana contemporânea e artistas de ascendência africana. Os artigos reunidos também evidenciam iniciativas que buscam um novo olhar sobre as narrativas históricas dominantes, por meio da abertura dos museus à investigação, de projetos colaborativos com universidades e comunidades e da revisão de conteúdos e linguagens racializadas.

Acesse os artigos na íntegra!

História, Ciências, Saúde – Manguinhos, volume 32, suplemento 1, 2025 – Sumário