HCS-Manguinhos debate eugenia na Europa mediterrânea e América Latina

Agosto/2018

César Guerra Chevrand (COC/Fiocruz)

Tema emergente no campo da pesquisa acadêmica, a eugenia na Europa mediterrânea e na América Latina é a pauta do suplemento de agosto de 2018 da revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos. A partir de novos trabalhos, que exploram fontes inéditas e abordagens diferenciadas, a edição especial do periódico científico da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz) apresenta uma perspectiva para a eugenia que ultrapassa as fronteiras do mundo anglófono e a relação direta com os regimes totalitários no período entre a 1ª e a 2ª Guerra Mundial. 


O suplemento traz como editores convidados dois pesquisadores do Conselho Nacional de Pesquisa Científica e Tecnológica da Argentina (Conicet). Marisa A. Miranda é professora da Universidad Nacional de la Plata e Gustavo Vallejo atua no Departamento de Ciências Sociais da Universidad Nacional de Quilmes. Em sua carta de apresentação, Marisa e Gustavo contextualizam a nova produção acadêmica sobre o que chamam de “ciência do cultivo racial”, marcada por uma variedade de metodologias e objetos de estudo, de acordo com especificidades históricas e geográficas. “A eugenia é historicizada aqui como uma expressão das conexões entre ciência e poder, biologia e política, medicina e religião, e saúde e sexualidade, em quadro de países envolvidos num diálogo permanente sobre o tema”, afirmam na Carta dos Editores Convidados.

A seção Análise apresenta nove artigos sobre o tema. Em seu texto, o pesquisador da Universidad Nacional de Quilmes Gustavo Vallejo discute a “hora zero” da eugenia na Argentina, analisando as disputas e ideologias presentes no surgimento do campo científico, entre 1916 e 1932. Em seguida, a outra editora convidada do suplemento, Marisa A. Miranda, descreve as principais características do estereótipo de família promovida pela emblemática Sociedade Argentina de Eugenia, que foi criada em 1945 e se manteve atuante no país até a década de 1970.

Hans Betzhold e o “Superman” chileno: história de uma decepção, 1938-1943 é o título do artigo do professor-assistente da Faculdade de Filosofia e Humanidades da Universidad de Chile, Marcelo Sánchez-Delgado, que investiga a repercussão do livro Eugenia, de 1939. Em outro trabalho, a doutoranda do Programa de Pós-graduação em História das Ciências e da Saúde da Casa de Oswaldo Cruz Eliza Teixeira de Toledo e a professora do Departamento de História da Universidade Federal de Minas Gerais UFMG) Ana Carolina Vimieiro analisam a obra A vida sexual, do neurologista português Egas Moniz.

Pesquisador titular da Institución Milá y Fontanals do Consejo Superior de Investigaciones Científicas, de Barcelona, Álvaro Girón-Sierra assina artigo sobre as relações entre a eugenia, anarquismo e neomalthusianismo em Barcelona, entre 1896 e 1915. O neomalthusianismo e a eugenia, no contexto da imprensa anarquista espanhola, também é o tema do trabalho de dos professores da Faculdade de Medicina da Universidad Autónoma de Barcelona, Jorge Molero-Mesa e Carlos Tabernero-Holgado, e da professora da Faculdade de Medicina da Universidad de Málaga Isabel Jiménez-Lucena.

Em nome da ciência: o contexto conceitual e ideológico da eugenia de Charles Richet é o nome do artigo do professor do Departamento de Estudos Linguísticos e Culturais da Università di Modena e Reggio Emilia (Itália) Antonello La Vergata. Pós-doutoranda do Programa de Pós-graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas da Universidade Federal de Santa Catarina, María Fernanda Vásquez discute a situação da Colômbia, entre 1920 e 1930, e o contexto da eugenia latino-americana. Encerrando a seção, a professora do Departamento de Sociologia e Ciências Políticas da Universidade Federal de Santa Catarina Sandra Caponi debate a degeneração e a eugenia na história da psiquiatria brasileira, a partir do trabalho do médico Renato Kehl (1889-1974).

Fontes e Livros & Redes

A eugenia latina, nas páginas da revista argentina Viva Cien Años (1937-1947), é o destaque da seção Fontes. Em seu texto, a professora do Departamento de História da Universidad Nacional de Mar del Plata, Luciana Mercedes Linares, analisa as estratégias da publicação científica para conquistar a opinião pública do país. Na seção Livros & Redes, Héctor A. Palma, da Escola de Humanidades da Universidad Nacional de San Martin (Argentina), apresenta resenha sobre Una historia de la eugenesia: Argentina y las redes biopolíticas internacionales, 1912-1945, de Marisa Miranda e Gustavo Vallejo. Na outra resenha, Pablo Kopelovich, do Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas, discute a obra Miradas médicas sobre la cultura física en Argentina, 1880-1970, de Pablo Scharagrodsky.

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