Janeiro/2023
Entre 1969 e 1972, o sociólogo paulista Florestan Fernandes (1920-1995) contribuiu com algumas atividades acadêmicas organizadas pelo Instituto Latino-Americano de Relações Internacionais (Ilari), criado por conhecida fundação anticomunista, o Congresso pela Liberdade da Cultura (CLC), financiada pela Central de Inteligência Americana (CIA) com o objetivo de promover atividades culturais anticomunistas que competissem com a influência soviética sobre artistas e intelectuais ocidentais.
O período em questão é tema controverso na bibliografia de Florestan Fernandes, que nas décadas de 1980 e 90 destacou-se como intelectual e deputado federal do Partido dos Trabalhadores (PT).
No artigo A sociologia latino-americana na Guerra Fria Cultural: Florestan Fernandes, Aldo Solari e o Ilari (História, Ciências, Saúde-Manguinhos, v. 29, n. 4, out/dez 2022), João Marcelo Ehlert Maia, professor associado do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da Fundação Getúlio Vargas (CPDOC/FGV), investiga um episódio pouco conhecido da trajetória do sociólogo, bem como da própria história da sociologia latino-americana em geral.
Segundo o pesquisador, o episódio evidencia as perspectivas de Florestan a respeito de seu projeto de sociologia científica e sobre a própria forma de atuação do Ilari nas ciências sociais da região. Ele conta que essa aproximação foi mediada pelo seu colega uruguaio, o sociólogo Aldo Solari, e permanecia pouco explorada até aqui.
“A análise dessa parceria revela um Florestan preocupado com a manutenção de espaços plurais de debate científico e disposto até mesmo a contribuir com uma instituição central para a Guerra Fria Cultural no continente. Pelo lado do Ilari, atrair Florestan para seus seminários e publicações era importante para garantir a legitimidade científica e política de um instituto muito contestado por seus vínculos de origem com o CLC”, explica.
João Marcelo Ehlert Maia analisa cartas trocadas entre Florestan e Solari e a documentação do próprio Ilari para discutir como se deu essa breve e inusitada colaboração. Ele também compara as visões de Florestan e Solari a respeito do papel das universidades latino-americanas na modernização latino-americana, localizando pontos de convergência, e discute o que significou a Guerra Fria cultural na América Latina, as estratégias utilizadas pelo Ilari para tentar combater a influência cubana na região e atrair intelectuais de esquerda para suas atividades.
Leia na revista HCS-Manguinhos:
A sociologia latino-americana na Guerra Fria Cultural: Florestan Fernandes, Aldo Solari e o Ilari, artigo de João Marcelo Ehlert Maia (História, Ciências, Saúde-Manguinhos, v. 29, n. 4, out/dez 2022)