Grupo promove palestras sobre história da genética, do darwinismo e da eugenia

Novembro/2019

Blog de HCS-Manguinhos

Robert Wegner

Recém-chegado de um ano na Universidade de Illinois, EUA, onde realizou pesquisas sobre história da genética e da eugenia em escolas agrícolas norte-americanas do início do século XX, Robert Wegner traz na bagagem projetos que vão de palestras a livros, passando por artigos, cursos e seminários.

Pesquisador e professor do Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e da Saúde da Casa de Oswaldo Cruz, Wegner conversou com o Blog de HCS-Manguinhos sobre as atividades do Consortium for History of Science, Technology and Medicine e especificamente do grupo Evolution and Heredity in Brazil, que ele integra com William deJong Lambert e Marcelo Loreto no Consortium. De 18 de dezembro a novembro de 2020, o grupo promoverá uma série de seis palestras sobre história da genética, do darwinismo e da eugenia.

Poderia falar sobre a rede de pesquisa internacional que você integra, o Consortium for History of Science, Technology and Medicine?

O Consortium foi criado em 2007 por um grupo de instituições da Philadelphia com o objetivo de reunir pesquisadores ao redor do mundo para refletir sobre os desafios contemporâneos, o que exige uma compreensão do impacto que a ciência, a tecnologia e a medicina têm sobre a vida das pessoas. Nestes pouco mais de dez anos, a iniciativa cresceu bastante, com a participação de várias universidades norte-americanas e com a ampliação de suas atividades. Hoje, o Consortium organiza séries de palestras, disponibiliza fontes primárias, concede bolsas de pesquisas, além de aglutinar grupos de pesquisadores para debater suas pesquisas por meio da web.

William deJong Lambert, da Universidade da Cidade de Nova York (Cuny), Marcelo Loreto, um jovem pesquisador em história da biologia, e eu organizamos um desses grupos, intitulado Evolution and Heredity in Brazil. Nós planejamos uma série de seis palestras bimensais sobre história da genética, do darwinismo e da eugenia. A primeira ocorrerá no dia 18 de dezembro e seguiremos até novembro de 2020. A programação completa está disponível no site http://chstm.org/brazil. Para assistir as palestras e participar basta se inscrever no Consortium.

Que instituições e pesquisadores participam do grupo Evolution and Heredity in Brazil?

Além da participação do William, do Marcelo e da minha, contaremos com as comunicações dos pesquisadores Lilian Al-Chueyr Pereira, da Universidade de São Paulo, Paula Habib, da UFF, Campus Santo Antônio de Pádua, e Claude-Olivier Doron, do Centro Georges Canguilhem da Universidade de Paris Diderot. Outros pesquisadores estarão acompanhando e contribuindo no decorrer das atividades.

Na realidade, este grupo do Consortium é o desdobramento de uma rede mais ampla de pesquisadores que se tem reunido sistematicamente e organizado eventos há mais de cinco anos, seja na Fiocruz e na UFMG, seja nos congressos da Sociedade Brasileira de História das Ciências (SBHC) e da Division of History of Science and Technology (DHST) do International Union of History and Philosophy of Science and Technology (IUHPST). Outros pesquisadores que vêm sistematicamente participando desta rede são Ana Carolina Vimieiro Gomes, da UFMG, Vanderlei Sebastião de Souza, da Unicentro-PR, Marcos Chor Maio, da COC, Luc Berlivet, do Cermes/CNRS, e outros.

Quais atividades são realizadas?

O último evento que realizamos foi um curso sobre Theodor Dobzhansky, cientista russo que, além de ter tido um papel crucial na história da genética, foi uma figura central para a consolidação dos estudos em genética no Brasil. Este curso foi realizado na Fiocruz, em agosto, e conduzido pelo William. Complementarmente ao curso, com financiamento da Fulbright e da Capes, realizamos o seminário internacional História da Genética e de seus impactos.
Em 2017, o Luc Berlivet havia lecionado na Fiocruz o curso The naturalization of differences: the uses of heredity, e, dois anos antes, já havíamos realizado um curso sobre história da eugenia, contando com a participação de Jerry Dávila, da Universidade de Illinois, e de Alexandra Stern, da Universidade de Michigan.

A próxima atividade será então esta série de palestras no Consortium, e o próximo passo é organizar um projeto de pesquisa sobre genética, hereditariedade, eugenia e questões raciais reunindo pesquisadores brasileiros, franceses e norte-americanos e buscando financiamento junto a Fulbright, ao CNRS e as agências de fomento brasileiras.

Quais as suas pesquisas atuais e próximas publicações?

Voltei dos Estados Unidos em agosto, onde estive na Universidade de Illinois, em Urbana-Champaign, realizando, durante um ano, pesquisas sobre a história da genética e da eugenia em escolas agrícolas norte-americanas do início do século XX. Estou concluindo um artigo sobre Eugene Davenport e Cyrill Hopkins, dois pesquisadores agrícolas de Illinois do início do século XX. Agora, no Brasil, retomei com olhos renovados a pesquisa que desenvolvo com financiamento da Faperj sobre dois professores da Escola Superior da Agricultura Luiz de Queiroz que militaram no movimento eugênico a partir de fins dos anos 1920. Uma coisa que sempre me intrigou foi o fato de que, enquanto Salvador de Toledo Piza Junior criticava a miscigenação, Octávio Domingues realizou um enfático elogio à mistura racial. Meu plano para os próximos dois anos é escrever um livro que compare os brasileiros e os norte-americanos e aborde os diálogos entre eles.

A próxima publicação, que já está no prelo, trata-se de um verbete para o projeto Oxford Research Encyclopedias. Em parceria com meus colegas Marcos Chor Maio e Vanderlei Sebastião de Souza, acabei de escrever um balanço sobre as discussões raciais na ciência e no pensamento social brasileiro no decorrer do século XX. Nosso verbete deverá ser publicado e ir ao ar no volume Oxford Encyclopedia of Brazilian History and Culture no início de 2020.

Leia no Blog de HCS-Manguinhos:

Em vídeo, Robert Wegner apresenta o suplemento ‘A eugenia latina em contexto transnacional’, de HCS-Manguinhos
Proposto no livro A hora da eugenia, publicado em 1991 por Nancy Stepan, o conceito de “eugenia latina” é revisitado por uma série de artigos vindos de diferentes países, que abordam distintos contextos históricos.

Leia em HCS-Manguinhos:

Vimieiro-Gomes, Ana Carolina, Wegner, Robert and Souza, Vanderlei Sebastião de CARTA DOS EDITORES CONVIDADOS. Dez 2016, vol.23, supl.1

Wegner, Robert and Souza, Vanderlei Sebastião de Eugenia ‘negativa’, psiquiatria e catolicismo:embates em torno da esterilização eugênica no Brasil. Mar 2013, vol.20, no.1

Wegner, Robert. Livros do Arco do Cego no Brasil colonial. 2004, vol.11, suppl.1

Wegner, Robert. A crítica da crítica do pensamento político. Dez 2004, vol.11, no.3

Como citar este post:

Grupo promove palestras sobre história da genética, do darwinismo e da eugenia. Blog de HCS-Manguinhos. Publicado em 12 de novembro de 2019. Disponível em http://www.revistahcsm.coc.fiocruz.br/grupo-promove-palestras-sobre-historia-da-genetica-do-darwinismo-e-da-eugenia/