Dezembro/2016
No período colonial, as poucas ordens femininas que existiam na América portuguesa guardavam estritamente a clausura, condição necessária para manter o recato de virgens consagradas a Cristo. Era um voto perpétuo que só poderia ser quebrado em raríssimas exceções. Desta forma, quem ingressava no Convento de Nossa Senhora da Conceição da Ajuda, no Rio de Janeiro, fundado em 1750, dificilmente sairia de lá em vida. Entre as exceções para saída estavam as doenças contagiosas, que poderiam colocar em risco a vida das demais religiosas.
No artigo A clausura enferma: petições para a saída do Convento da Ajuda no Rio de Janeiro para tratamento de doenças contagiosas, c.1750-1780, publicado nesta edição de HCS-Manguinhos (vol.23, no.3, jul./set. 2016), William de Souza Martins, professor de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro, analisa os pedidos de freiras do Convento da Ajuda para deixar a clausura a fim de curar doenças contagiosas. A documentação estudada traz detalhes sobre as causas e as formas de transmissão das doenças, bem como sobre os tipos de tratamento para combatê-las. Foram analisadas três solicitações feitas por freiras encontradas na caixa de registros de entrada no noviciado e profissão solene do Convento entre princípios da década de 1760 e 1800.
Os documentos apresentam uma estrutura geral semelhante: a petição da freira; as justificativas de médicos para a saída da clausura devido à natureza contagiosa da doença; os testemunhos de algumas religiosas; as autorizações da comunidade conventual e das demais autoridades eclesiásticas. Os processos também esclarecem os procedimentos adotados fora da clausura para as freiras não colocarem em risco o recolhimento e a honra, quando iam buscar em locais distantes o tratamento adequado para aquelas doenças. Elas passavam a viver na companhia de matronas de confiança, em geral ligadas à família da própria religiosa.
Leia em HCS-Manguinhos:
A clausura enferma: petições para a saída do Convento da Ajuda no Rio de Janeiro para tratamento de doenças contagiosas, c.1750-1780, artigo de William de Souza Martins (vol.23, no.3, jul./set. 2016)