Fevereiro/2015
A Presidência da Fiocruz lamenta profundamente o falecimento do médico Joffre Marcondes de Rezende, aos 93 anos, em Goiânia. Natural de Minas Gerais, Rezende se formou na Faculdade Nacional de Medicina da Universidade do Brasil (atual Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro) em 1950. Especialista em gastroenterologia, mudou-se para Goiânia em 1954 e ali desenvolveu uma carreira dedicada ao ensino, à pesquisa e à clínica. Destacou-se por suas importantes contribuições ao estudo da doença de Chagas, tornando-se referência na área. Em 2009, quando se comemorou o centenário da descoberta da doença, seu artigo sobre a forma digestiva dacenfermidade, publicado originalmente em 1956, foi selecionado para figurar, em publicação da Editora Fiocruz (Clássicos em doença de Chagas), entre os 15 textos mais importantes produzidos sobre a doença até então, junto a trabalhos do próprio Carlos Chagas.
Rezende foi um dos fundadores da Academia Goiana de Medicina, da Sociedade Goiana de Gastroenterologia e da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás, onde lecionou por mais de 30 anos, recebendo a distinção de professor emérito em 1992. Foi também um dos fundadores da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical e da Sociedade Brasileira de História da Medicina. Durante 35 anos foi o editor da Revista Goiana de Medicina, periódico criado em 1955 e ainda em circulação. Em 1959, recebeu a Medalha Comemorativa do Cinquentenário da Descoberta da Doença de Chagas, concedida pelo Instituto Oswaldo Cruz.
Em 2006, recebeu o título de professor honoris causa da Universidade de Brasília e em 2011 foi homenageado na 63a Reunião Anual da SBPC. Foi autor de numerosos artigos e livros, entre eles Vertentes da medicina e Linguagem médica, este último já na quarta edição e uma referência na área médica. Em 2013, foi um dos editores de Seara de Asclepio, que reúne diversos trabalhos sobre a história da medicina. Rezende mantinha estreitos laços com pesquisadores da Fiocruz, tendo sido integrante do Conselho Editorial da revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos.
Fonte: CCS/Fiocruz
Depoimento de Simone Kropf, pesquisadora e coordenadora do Programa de Pós-Graduação da Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz
“Conheci Joffre Rezende em 2001, quando realizava pesquisa para minha tese de doutorado sobre a história da doença de Chagas. Em seu consultório, passei longas horas entrevistando-o. Além de um depoimento de grande importância, a ida a Goiânia brindou-me com a felicidade de conhecer alguém muito especial. Generosidade, gentileza, sabedoria: estas eram algumas das inúmeras qualidades deste médico e pesquisador que, a partir de então, eu chamaria orgulhosamente de amigo. Dr. Joffre acompanhou de perto a elaboração de minha tese e, principalmente, das publicações que dela resultaram. Era um apaixonado pela medicina e por sua história. Acima de tudo, pela história da doença de Chagas! Nos eventos da área, falávamos longamente sobre o assunto. Eu adorava ouvi-lo sobre as “peripécias” dos médicos goianos que se aventuraram em uma trilha de pesquisa que nasceu no “litoral” mas se espraiou pelo “Brasil central”. Essas conversas me faziam refletir sobre como a história nos coloca diante da experiência concreta dos indivíduos que a constroem, com seus anseios, dúvidas e paixões. Mantive contato com Dr. Joffre até pouco antes de seu falecimento. Guardo, com muito carinho, a lembrança da última vez que o vi pessoalmente. Aos 91 anos, ele me contou que ainda recebia com frequência muitos textos sobre os quais lhe solicitavam sua leitura e avaliação crítica. Seus comentários, feitos sempre com a precisão de um erudito e a gentileza de um cavalheiro, eram preciosos. Dr. Joffre era muito querido e admirado por todos os que tiveram o privilégio de conhecê-lo. Meu querido amigo deixa muitas saudades.”
Depoimento de Tamara Rangel Vieira, pesquisadora da Casa de Oswaldo Cruz:
“Tive a felicidade de conhecer o Dr. Joffre em 2006 em Goiânia, durante o XI Congresso Brasileiro de História da Medicina. Esse encontro, intermediado pela pesquisadora Simone Kropf, aconteceu durante meu mestrado e marcou o início de uma bela amizade. Desde então, sempre acompanhou de perto, e com muito entusiasmo, todo meu percurso acadêmico, especialmente por conta do meu interesse pela história da medicina goiana. Apesar da idade já avançada, nunca deixou de trabalhar e produzir intelectualmente. Estava sempre à disposição para auxiliar em tudo o que fosse necessário. Minhas visitas a Goiânia para pesquisa no acervo da Associação Médica de Goiás, por exemplo, só foram viáveis devido à sua intercessão, assim como o contato com outros médicos goianos. Ressalto ainda sua generosidade ao permitir o acesso à sua correspondência pessoal, as preciosas indicações bibliográficas e a leitura atenta que fez do meu trabalho, no qual ele próprio aparece, merecidamente, em destaque. Companhia sempre agradável e figura amável que tive o imenso prazer de conhecer.”
Leia em HCS-Manguinhos:
A viagem científica de Neiva e Penna: roteiro para os estudos das doenças do sertão, artigo de Joffre Marcondes de Rezende (vol.16, supl.1, 2009)
No coração do Brasil, uma capital saudável – a participação dos médicos e sanitaristas na construção de Brasília (1956-1960), artigo de Tamara Rangel Vieira (vol.16, supl.1, 2009)
The discovery of Trypanosoma cruzi and Chagas disease (1908-1909): tropical medicine in Brazil. Simone Petraglia Kropf e Magali Romero Sá. (vol.16, supl.1, 2009)