Março/2024
COC/Fiocruz (com informações do Iphan)
O conjunto histórico da Fiocruz em Manguinhos, zona Norte do Rio de Janeiro, é candidato a Patrimônio Mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). A instituição passou a integrar a lista indicativa de locais que podem se tornar Patrimônio Mundial Cultural, Natural e Misto, etapa primordial e obrigatória para qualquer bem iniciar um processo de reconhecimento.
Além da Fiocruz, passou a integrar a Lista Indicativa da Unesco a Chapada do Araripe, que abrange áreas dos estados do Ceará, Pernambuco e Piauí. No local há bens que remontam a 180 milhões de anos, abrigando a memória de formação geológica da terra e registros arqueológicos da presença humana do passado. Os dois bens culturais precisarão permanecer por um ano na lista para qualquer formalização de candidatura oficial ao Centro do Patrimônio Mundial da Unesco.
“Temos uma oportunidade ímpar de compartilhar os patrimônios do Brasil numa vitrine mundial. Somos ricos, plurais e temos muito a oferecer. E a cada vez que mostramos essas nossas belezas naturais, fortalecemos a nossa cultura”, destaca a ministra da Cultura, Margareth Menezes.
Atualmente, o Brasil possui 23 Patrimônios Mundiais. Eles são divididos entre Patrimônio Mundial Cultural, Natural e Misto – este último quando um único lugar possui características singulares associadas aos valores culturais e naturais. Os patrimônios mundiais, definidos pela Convenção de 1972 da Unesco, podem ser edificações, conjuntos urbanos, monumentos, paisagens culturais, ou cidades inteiras, biomas e locais de alto grau de importância ambiental. Atualmente, existem 23 desses lugares espalhados pelo Brasil, entre esses, 15 Culturais, sete Naturais e um Misto.
“A candidatura ainda não significa o reconhecimento como Patrimônio Mundial, mas os bens que já foram reconhecidos partiram dessa lista indicativa. Esses dois bens podem se juntar aos outros sítios do Brasil já reconhecidos como Patrimônio Mundial”, ressalta o presidente do Instituto do Património Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Leandro Grass.
Patrimônio da saúde: tipologia inédita na lista da Unesco
Diretor da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), Marcos José Pinheiro frisa que a inscrição do conjunto histórico de Manguinhos é um ineditismo na lista da Unesco. “A candidatura da Fiocruz é singular na medida em que se propõe a preencher uma lacuna de reconhecimentos pela Unesco, relativa ao patrimônio da saúde. A recente pandemia mostrou o quanto a saúde – em suas diferentes dimensões – é um tema relevante e impregnado de significados para a população mundial. A inclusão na lista indicativa é um reconhecimento e, ao mesmo tempo, um desafio que estamos muito entusiasmados em enfrentar”.
Exemplar na apropriação da linguagem do ecletismo arquitetônico e das mais modernas tecnologias construtivas do início do século 20, o conjunto histórico da Fiocruz em Manguinhos, na zona norte do Rio, é testemunho da institucionalização da ciência na América Latina. Criado com o objetivo inicial de produzir soros e vacinas para combater as epidemias da época, o instituto dirigido por Oswaldo Cruz representou um tipo de organização científica original, baseado na confluência da medicina tropical com a microbiologia.
As primeiras gerações de cientistas da instituição, que até hoje tem o Pavilhão Mourisco como seu maior símbolo, empreenderam viagens ao interior do Brasil nas primeiras décadas do século 20, que representaram um marco para a pesquisa científica e para o conhecimento do país, associando o ideal civilizatório da época à proposta de integração dos sertões. Os impactos da sua atuação no campo da saúde foram sentidos para além das fronteiras brasileiras, na América Latina, e reconhecidos por instituições congêneres na Europa e nos Estados Unidos, com quem manteve profícuo intercâmbio científico.
Conjunto histórico de Manguinhos: pesquisa, preservação e valorização
O conjunto histórico de Manguinhos atende a todos os requisitos de autenticidade, integridade e gestão. Além disso, existe vasto material de pesquisa sobre o conjunto histórico produzido por pesquisadores da Fiocruz e de outras instituições. Até hoje, a Fiocruz realiza iniciativas contínuas que visam a preservação e a valorização do seu vasto e diversificado patrimônio cultural, que, além dos edifícios e espaços históricos, inclui objetos, fotografias e outros documentos produzidos nos seus primeiros anos de atividade.
“A partir de fevereiro de 2025, poderemos oficializar a candidatura dos bens culturais. Vamos organizar um material para avaliação de especialistas que operam junto à Unesco”, explica a assessora internacional do Patrimônio Material do Iphan, Candice Ballester.
A candidatura Fundação Oswaldo Cruz: saúde, ciência e cultura em Manguinhos, apresentada como patrimônio cultural, atende aos critérios 2 e 6 como justificativa do Valor Universal Excepcional.
Critérios da Unesco para aferição do Valor Universal Excepcional
1. Representar uma obra-prima do gênio criador humano;
2. Ser testemunho de um intercâmbio de influências considerável, durante um dado período ou numa determinada área cultural, sobre o desenvolvimento da arquitetura ou da tecnologia, das artes monumentais, do planejamento urbano ou da criação de paisagens;
3. Constituir um testemunho único ou pelo menos excepcional de uma tradição cultural ou de uma civilização viva ou desaparecida;
4. Representar um exemplo excepcional de um tipo de construção ou de conjunto arquitetônico ou tecnológico, ou de paisagem que ilustre um ou mais períodos significativos da história humana;
5. Ser um exemplo excepcional de povoamento humano tradicional, da utilização tradicional do território ou do mar, que seja representativo de uma cultura (ou culturas), ou da interação humana com o meio ambiente, especialmente quando este último se tornou vulnerável sob o impacto de alterações irreversíveis;
6. Estar direta ou materialmente associado a acontecimentos ou a tradições vivas, ideias, crenças ou obras artísticas e literárias de significado universal excepcional (o Comitê considera que este critério deve, de preferência, ser utilizado conjuntamente com outros);
7. Representar fenômenos naturais notáveis ou áreas de beleza natural e de importância estética excepcionais;
8. Ser exemplos excepcionalmente representativos dos grandes estágios da história da Terra, nomeadamente testemunhos da vida, de processos geológicos em curso no desenvolvimento de formas terrestres ou de elementos geomórficos ou fisiográficos de grande significado;
9. Ser exemplos excepcionalmente representativos de processos ecológicos e biológicos em curso na evolução e desenvolvimento de ecossistemas e comunidades de plantas e de animais terrestres, aquáticos, costeiros e marinhos;
10. Conter os habitats naturais mais representativos e mais importantes para a conservação in situ da diversidade biológica, nomeadamente aqueles em que sobrevivem espécies ameaçadas que tenham um Valor Universal Excepcional do ponto de vista da ciência ou da conservação.
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Leia sobre a Fiocruz em História, Ciências, Saúde – Manguinhos:
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Pavilhão Mourisco: desafios para sua preservação, artigo de Carla Maria Teixeira Coelho, Elisabete Edelvita Chaves da Silva e Rosana Soares Zouain (vol. 27, n.2, abr./jun. 2020)
Documentos de arquivo produzidos pela atividade científica: uma análise dos cadernos de laboratório do Instituto Oswaldo Cruz, artigo de Paulo Roberto Elian dos Santos, Renata Silva Borges e Francisco dos Santos Lourenço. Set 2019, vol.26, no.3
Democratizar a informação para o desenvolvimento do conhecimento: a ampliação do acesso ao acervo documental das ciências e da saúde na Fiocruz, artigo de Nercilene Santos da Silva Monteiro. Mar 2019, vol.26, no.1.
Cooperação internacional em saúde: o caso da Fiocruz, artigo de José Roberto Ferreira et al. Jun 2016, vol.23, no.2
A translação do conhecimento no âmbito da cooperação internacional: a experiência da Fiocruz em incorporação de tecnologias em saúde no Haiti, artigo de Luisa Regina Pessoa, Erica Kastrup e Pedro Linger. Jun 2016, vol.23, no.2
Fiocruz as an actor in Brazilian foreign relations in the context of the Community of Portuguese-Speaking Countries: an untold story, artigo de Alejandra Carrillo Roa e Felipe Ricardo Baptista Silva, Mar 2015, vol.22.
Um brasileiro no Reich de Guilherme II: Henrique da Rocha Lima, as relações Brasil-Alemanha e o Instituto Oswaldo Cruz, 1901-1909. André Felipe Cândido da Silva. Mar 2013, vol.20, no.1
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Avaliação da aprendizagem sobre saúde, em visita ao Museu da Vida. Vânia Rocha, Evelyse dos Santos Lemos e Virginia Schall. Jun 2010, vol.17, no.2
Expedições científicas, fotografia e intenção documentária: as viagens do Instituto Oswaldo Cruz (1911-1913). Maria Teresa Villela Bandeira de Mello e Fernando A. Pires-Alves. Jul 2009, vol.16, supl.1
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Coleção entomológica do Instituto Oswaldo Cruz: resgate de acervo científico-histórico disperso pelo Massacre de Manguinhos. Jane Costa et al. Jun 2008, vol.15, no.2
História, Ciências, Saúde – Manguinhos: um balanço de 12 anos de circulação ininterrupta, artigo de Benchimol, Jaime L. et al. Mar 2007, vol.14, no.1
Nas frestas entre a ciência e a arte: uma série de ilustrações de barbeiros do Instituto Oswaldo Cruz. Ricardo Lourenço de Oliveira e Roberto Conduru. Ago 2004, vol.11, no.2
Inovação tecnológica em saúde na Fundação Oswaldo Cruz, artigo de Paulo Marchiori Buss. 2003, vol.10, supl.2
Inovação em vacinas no Brasil: experiência recente e constrangimentos estruturais, artigo de Carlos Gadelha e Nara Azevedo. 2003, vol.10, supl.2
Produzindo um imunizante: imagens da produção da vacina contra a febre amarela, artigo de Aline Lopes Lacerda e Maria Teresa Villela Bandeira de Mello. 2003, vol.10, supl.2
Bertha Lutz e a construção da memória de Adolpho Lutz, artigo de Jaime L. Benchimol, Magali Romero Sá, Márcio Magalhães de Andrade, Victor Leandro Chaves Gomes (vol.10, no.1, jan./apr. 2003)
Adolpho Lutz em Manguinhos: casos sérios e divertidos. Depoimentos e imagens (vol.10, no.1, jan./apr. 2003)
Recordações da infância: as primeiras letras com a família Lutz. Depoimentos e imagens (vol.10, no.1, jan./apr. 2003)
Bertha Lutz na visão de um técnico aprendiz. Depoimentos e imagens (vol.10, no.1, jan./apr. 2003)
Os Lutz na visão dos contemporâneos. Depoimento de Esmeraldino de Souza (vol.10, no.1, jan./apr. 2003)
Erradicação da poliomielite no Brasil: a contribuição da Fundação Oswaldo Cruz. Schatzmayr, Hermann G. et al. Abr 2002, vol.9, no.1
A produção científica publicada pelo Instituto Oswaldo Cruz no período 1900 a 1917: um estudo exploratório. Wanda Latmann Weltman. Abr 2002, vol.9, no.1
Um estranho no ninho: memórias de um ex-presidente da Fiocruz, artigo de Wanda Hamilton e Nara Azevedo. Jun 2001, vol.8, no.1
Lições da iniciação científica ou a pedagogia do laboratório, artigo de Rosa Maria Corrêa das Neves. Jun 2001, vol.8, no.1
Missões civilizatórias da República e interpretação do Brasil, artigo de Nísia Trindade Lima. Jul 1998, vol.5
Espaço biodescoberta: uma exposição interativa em biologia, artigo de Carla Gruzman Gabriel e Luiz AntonioTeixeira. Out 1999, vol.6, no.2
O Programa de Vocação Científica da Fundação Oswaldo Cruz (Provoc) como estratégia educacional relevante, artigo de Ana Maria Amâncio, Ana Paula R. de Queiroz e Antenor Amâncio Filho. Jun 1999, vol.6, no.1
Haity Moussatché: homenagem ao guerreiro da ciência brasileira. Out 1998, vol.5, no.2
Trabalho técnico em laboratórios de pesquisa e desenvolvimento em saúde: um estudo de caso. Mareia de Oliveira Teixeira, Tânia C. M. Nunes e José Manoel C. de Mello. Nov 1997, vol.4, no.3
Vivendo em Manguinhos: a trajetória de um grupo de cientistas no Instituto Oswaldo Cruz, artigo de Carlos Eduardo Calaça. Fev 2001, vol.7, no.3